REVISTA DOS TRIBUNAIS

ChatGPT: Ressignificando o ato de pensar

ChatGPT: Ressignificando o ato de pensar

ChatGPT: Entenda os impactos da inteligência artificial

Caro leitor, como você já deve saber, há um tempo tem circulado por aí muitas notícias sobre o ChatGPT. Afinal, o que é isso?

Lançado para o público geral no final de 2022, o ChatGPT é um chatbot (robô) que utiliza inteligência artificial para interagir com humanos de forma “natural”. Ele foi desenvolvido pela OpenAI, uma startup de pesquisa e desenvolvimento, e é treinado em quantidade massiva de dados de texto, permitindo que entenda e gere linguagem semelhante à humana, o que o coloca em um outro patamar em relação aos outros chatbots existentes, que carecem dessa característica humanizada.

Dentre as principais funcionalidades do ChatGPT, podemos destacar sua capacidade de:

  • Aprender com as interações do usuário, tornando-se cada vez mais preciso e eficiente;
  • Lidar com uma grande quantidade de informações e diferentes contextos, o que o torna uma ferramenta extremamente útil em diversos meios profissionais;
  • Utilizar linguagem natural para interagir, o que facilita a transmissão da real necessidade do usuário.
Impacto no dia a dia

Entretanto, é interessante e necessária a reflexão acerca do impacto de sua implementação no dia a dia dos usuários, já que ela, a princípio, teria a capacidade de responder todas as nossas dúvidas, interagir conosco e, inclusive, escrever poesia, histórias, letras de canções e etc.

Será que o surgimento e a ampla divulgação destas ferramentas farão com que abdicamos do ato de pensar? Para acrescentar ao debate, a seguir mencionarei alguns aspectos negativos dos chatbots em geral, para que vejamos que essas ferramentas devem ser utilizadas com moderação e, também, como um complemento, e não uma substituição ao trabalho intelectual genuinamente humano.

  1. Enviesamento: A depender do tipo de dado nela inserido, a falta ou o excesso de tipos específicos de informações podem acabar deixando de lado grupos ou minorias, barrando a IA de levar estes grupos em consideração quando da análise ou resposta de alguma demanda;
  2. Desatualização: A base de dado do ChatGPT, por exemplo, teve sua última leva de atualização em setembro de 2021, tornando-a, portanto, pouco consistente para o questionamento de eventos que ocorreram após este período;
  3. Carência de Regulamentação: Por se tratar de uma ferramenta que foi disponibilizada em grande escala muito recentemente, o ChatGPT e seus semelhantes ainda carecem de regulamentação legislativa, o que torna sua utilização para fins profissionais, por exemplo o atendimento ao usuário ou a elaboração de textos profissionais, um tanto quanto delicada. Afinal, para refletirmos: Como ficariam os Direitos autorais de um texto elaborado por um robô?;
  4. Ética: Apesar da discussão sobre a aplicação da ética no âmbito da IA existir, especialmente na fase do design (fase de arquitetura) dessas ferramentas, é necessário entender que os seres humanos, antes de tudo criadores destas, vêm com diversos tipos de vieses cognitivos, transmitidos em nossos comportamentos e, subsequentemente, em nossos dados. Portanto, há de se pensar em como essa inteligência está sendo treinada e se isso não perpetuaria discriminações ou condutas que já têm certas salvaguardas nas comunicações humanas;
  5. Privacidade: Em um mundo cada vez mais dependente de dados, motor chefe das inteligências artificiais, a questão da privacidade e sua preservação tem sido um grande motivo de preocupação. Métodos de segurança, como a LGPD e grupos de Governança e Compliance, têm sido corriqueiros para o enfrentamento da veiculação desenfreada de dados. Mas para a Inteligência Artificial, que ainda carece de regulamentação, isso ainda pode ser um campo obscuro e frágil;
  6. Idioma: Na esmagadora maioria das vezes, as ferramentas de inteligência artificial são arquitetas para performarem em inglês, o que as leva a ter retornos mais inconsistentes em outros idiomas.
Novidades

No começo deste mês, foi lançado o ChatGPT-4, uma versão evoluída do GPT-3.5, com a capacidade de lidar com instruções mais sutis e passando a interpretar prompts (forma como você interage com um sistema de IA) de texto e imagens. Tornando-se, assim, mais efetivo para tarefas mais complexas, mais criativo e confiável, de acordo com seus desenvolvedores.

É inquestionável que a Inteligência Artificial possui expressivo potencial para facilitar a vida de seus usuários, seja no âmbito pessoal ou em grandes empresas. Entretanto, levando em consideração algumas ressalvas abordadas neste texto, é necessária cautela e o aprimoramento contínuo do debate humano e ético acerca dessas ferramentas para que assim, com algumas salvaguardas, elas sejam inseridas ainda no processo de criação e arquitetura desses softwares, evitando vieses e resultados que, quando produzidos em grande escala, gerem impactos quase que irreversíveis na sociedade.

Por fim, é necessária também a atenção de governos, poderes legislativos e do judiciário, para que exista uma regulamentação cuidadosa que traga o melhor das novas tecnologias, sem deixar de lado o cuidado com direitos e deveres da sociedade perante o novo. Operadores do Direito devem estar atentos às novidades trazidas pela Inteligência Artificial. Aí está o futuro e toda uma nova gama de oportunidades para estudiosos de como o Direito se conecta com um mundo cada vez mais digital.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Mais lidas

Post Relacionado

Trump escolhe Elise Stefanik para ser embaixadora da ONU

Trump escolhe Elise Stefanik para ser embaixadora da ONU

Por Katharine Jackson WASHINGTON (Reuters) – O presidente eleito dos Estados Unidos Donald Trump informou nesta segunda-feira que escolheu a parlamentar republicana Elise Stefanik para servir como embaixadora dos EUA na ONU. “Tenho a honra de nomear a deputada Elise Stefanik para servir em meu gabinete como embaixadora dos EUA

Inteligência Artificial nas Decisões Jurídicas

Inteligência Artificial nas Decisões Jurídicas

Nos últimos anos, a Inteligência Artificial (IA) tem se destacado como uma ferramenta transformadora em diversas áreas, incluindo o campo jurídico. A implementação de sistemas de IA nas decisões judiciais promete revolucionar a administração da justiça, oferecendo potencial para tornar os processos mais eficientes, justos e equitativos. No entanto, essa