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BC mantém Selic em 10,50%, prega cautela ainda maior na política monetária e alerta sobre fiscal

BC mantém Selic em 10,50%, prega cautela ainda maior na política monetária e alerta sobre fiscal

Banco Central

Por Bernardo Caram

BRASÍLIA (Reuters) – O Banco Central decidiu nesta quarta-feira manter a taxa Selic em 10,50% ao ano, em decisão unânime de sua diretoria, e pediu cautela “ainda maior” na política monetária, avaliando também que a percepção dos agentes econômicos sobre o cenário fiscal tem impactado preços de ativos e expectativas de mercado.

De acordo com o BC, a atual conjuntura, com tendência de desinflação mais lenta, ampliação da desancoragem das expectativas para os preços e cenário global desafiador, demanda serenidade na condução da política monetária.

“O Comitê, unanimemente, optou por manter a taxa de juros inalterada, destacando que o cenário global incerto e o cenário doméstico marcado por resiliência na atividade, elevação das projeções de inflação e expectativas desancoradas demandam acompanhamento diligente e ainda maior cautela”, afirmou o Comitê de Política Monetária (Copom) em comunicado.

Em relação às contas públicas, o Copom reafirmou que monitora o tema com atenção e que uma política fiscal crível e comprometida com a sustentabilidade da dívida contribui para a ancoragem das expectativas de inflação e para a redução dos prêmios de risco dos ativos financeiros, impactando a política monetária. No comunicado deste mês, o colegiado passou a destacar que preocupações sobre o tema têm afetado os preços dos ativos do país.

“A percepção dos agentes econômicos sobre o cenário fiscal, junto com outros fatores, tem impactado os preços de ativos e as expectativas dos agentes“, disse.

A nova avaliação sobre o tema das contas públicas foi apresentada mesmo após o governo anunciar um corte de 25,9 bilhões de reais em despesas obrigatórias em 2025 e decretar um congelamento de 15 bilhões de reais nas contas deste ano para respeitar regras fiscais, o que reduziu parcialmente as incertezas nessa área.

Para Raphael Vieira, co-head de Investimentos da Arton Advisors, além de observar uma deterioração das expectativas, o BC ainda vê uma maior depreciação do câmbio por conta da desconfiança dos agentes econômicos sobre a política fiscal, um cenário desafiador.

“O tom do comunicado veio novamente mais duro, citando a piora nas expectativas de inflação e a importância de uma política fiscal crível para ancorar essas expectativas”, afirmou.

Na avaliação do economista-chefe do Banco Master, Paulo Gala, a menção de que o Copom pode ficar mais vigilante no futuro se as variáveis de mercado piorarem ou se as expectativas de inflação se deteriorarem “pode ser lido como ‘vai subir juros'”, “não tem outra maneira de ler isso”.

Com a decisão desta quarta, a taxa básica de juros segue no menor patamar desde fevereiro de 2022, quando estava em 9,25% ao ano.

Após o BC interromper o ciclo de cortes nos juros básicos em junho, o mercado esperava a manutenção da taxa neste mês, com pesquisa da Reuters mostrando que todos os 40 economistas ouvidos apostavam nesse cenário, mas analistas aguardavam para avaliar no tom do comunicado em meio a incertezas sobre a evolução dos preços no país.

Desde a última reunião do Copom, o dólar subiu mais de 6% em relação à cotação de 5,30 reais que havia sido considerada pelo BC nas suas projeções em junho, fator que exerce pressão de alta sobre a inflação.

Em paralelo, houve piora nas expectativas de mercado para os preços à frente, fator tratado enfaticamente com preocupação pela autarquia porque a deterioração tem ocorrido a despeito de dados benéficos da inflação corrente. Desde a reunião de junho, a previsão para o IPCA de 2025 no boletim Focus passou de 3,80% para 3,96%.

O próprio BC piorou nesta quarta-feira suas projeções de inflação em relação a junho, com estimativas passando de 4,0% para 4,2% em 2024 e de 3,4% para 3,6% em 2025.

A autoridade monetária manteve em seu comunicado um cenário alternativo que considera a Selic constante no atual patamar ao longo do horizonte relevante. Nesse caso, as projeções de inflação passaram de 4,0% para 4,2% em 2024 e de 3,1% para 3,4% em 2025.

O BC ainda passou a apresentar uma projeção para a inflação no primeiro trimestre de 2026, de 3,4% no cenário de referência e 3,2% no cenário alternativo, mencionando que a projeção para seis trimestres à frente está em consonância com a meta contínua para a inflação, implementada pelo governo e que entrará em vigor em 2025.

O centro da meta oficial para a inflação neste e nos próximos anos é de 3%, sempre com margem de tolerância de 1,5 ponto percentual para mais ou menos.

RISCOS AJUSTADOS

No comunicado, o Copom também apontou que a processo de convergência dos preços está perdendo tração ao afirmar que a desinflação do IPCA cheio tem arrefecido, enfatizando que medidas de inflação subjacente, que desconsideram itens mais voláteis, seguem acima da meta.

A autoridade monetária avaliou que seu balanço de riscos para a inflação continua a ter fatores que podem pressionar a inflação em ambas as direções, mas fez alterações nos fatores.

Entre os riscos de alta, o BC retirou uma eventual maior persistência das pressões inflacionárias globais e passou a incluir uma possível desancoragem das expectativas de inflação por período mais prolongado.

Outro ponto incluído foi uma conjunção de políticas econômicas externa e interna que tenham impacto inflacionário, por exemplo, por meio de uma taxa de câmbio persistentemente mais depreciada.

“Os impactos inflacionários decorrentes dos movimentos das variáveis de mercado e das expectativas de inflação, caso esses se mostrem persistentes, corroboram a necessidade de maior vigilância”, disse.

A decisão do BC, que cita incerteza sobre os juros nos Estados Unidos entre os fatores que colaboram para um ambiente adverso, ocorreu horas após o banco central norte-americano manter a taxa básica de juros inalterada, mas abrir a porta para reduzi-la já na próxima reunião, em setembro, o que pode indicar um cenário mais benigno para países emergentes.

 

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