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Taxas longas sobem após medidas fiscais do governo e jogo duro do Congresso

Imagem de notas de dinheiro de 200 reais do Banco Central do Brasil, mostrando detalhes das cédulas com a imagem do Guarani na frente.

Por Fabricio de Castro

SÃO PAULO (Reuters) – A curva a termo brasileira passou por um processo de inclinação nesta quinta-feira, com alta das taxas dos DIs mais longos em meio ao mal-estar do mercado em relação ao cenário fiscal, após o governo Lula ter revisto na véspera as alíquotas de IOF e elevado o imposto sobre aplicações financeiras, entre outras medidas.

A visão de que o ajuste fiscal recaiu novamente sobre o aumento da receita — e não sobre os cortes de gastos — e a leitura de que as propostas terão caminho difícil no Congresso impulsionaram as taxas de prazos mais longos, em meio à percepção de que o Banco Central pode ser obrigado a continuar elevando a Selic.

No fim da tarde a taxa do DI (Depósito Interfinanceiro) para janeiro de 2026 estava em 14,855%, ante o ajuste de 14,879% da sessão anterior. A taxa para janeiro de 2027 marcava 14,2%, ante o ajuste de 14,213%.

Entre os contratos longos, a taxa para janeiro de 2031 estava em 13,71%, ante 13,671% do ajuste anterior, e o contrato para janeiro de 2033 tinha taxa de 13,77%, em alta de 4 pontos-base ante 13,728%.

Na noite de quarta-feira o governo publicou, em edição extra do Diário Oficial da União, um decreto calibrando para baixo parte dos aumentos do IOF anunciados no fim de maio.

Além disso, publicou uma medida provisória que, visando compensar a redução da arrecadação com IOF, eleva a taxação sobre bets, tributa ganhos com títulos atualmente isentos e altera o imposto de outras aplicações financeiras. Entre as medidas estão a cobrança de 17,5% de Imposto de Renda sobre os rendimentos de aplicações financeiras, independentemente do prazo, e a tributação de 5% sobre títulos hoje isentos – como LCIs, LCAs, CRIs, CRAs e debêntures incentivadas.

Algumas medidas de contenção de despesas, que abarcam itens como o programa Pé de Meia (de apoio a estudantes) e o Seguro Defeso também foram anunciados — embora nem mesmo o governo tenha divulgado ainda o impacto fiscal destas ações, consideradas de pouco alcance pelo mercado.

Embora as taxas dos DIs tenham iniciado a sessão desta quinta-feira em baixa, elas rapidamente ganharam força e migraram para o território positivo, em especial entre os vértices longos da curva, mais sensíveis à questão fiscal.

Além do mal-estar com a prioridade dada pelo governo à arrecadação, os agentes enxergaram um cenário de dificuldades para aprovação no Congresso.

“O mercado não quer que o governo taxe, ele quer ajuste pelo lado da despesa, não da receita. E se não houver acordo para esta compensação (da perda de receita com o IOF), isso vai escancarar o problema fiscal”, resumiu analista Laís Costa, da Empiricus Research.

No fim da manhã as taxas futuras tiveram um impulso adicional após o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), reconhecer que “o clima na Câmara não é favorável para o aumento de impostos com objetivo arrecadatório para resolver nossos problemas fiscais”.

Motta informou que o colégio de líderes da Casa decidiu pautar a urgência para votação de um projeto de decreto legislativo que susta os efeitos do decreto publicado na véspera pelo governo, que trata das alíquotas do IOF. A votação da urgência em plenário está prevista para segunda-feira.

Se o Congresso sustar o decreto de IOF do governo, voltariam a vigorar as alíquotas do imposto vigentes antes das mudanças promovidas.

“Está havendo bastante notícia sobre a questão do IOF, e Motta está jogando duro em relação às propostas do (ministro da Fazenda, Fernando) Haddad”, pontuou Costa.

Após os comentários de Motta, o dólar renovou máximas ante o real e as taxas dos DIs mais longos também atingiram picos. O movimento ocorria a despeito de, no exterior, os rendimentos dos Treasuries estarem em queda firme.

A incerteza no cenário fiscal, além de impulsionar as taxas de prazos mais longos no Brasil, manteve as dúvidas sobre o futuro da Selic, hoje em 14,25% ao ano. Isso porque, sem uma acomodação das contas públicas, a avaliação do mercado é de que o BC pode ser obrigado a continuar o processo de elevação da Selic, hoje em 14,75% ao ano.

Na quarta-feira — atualização mais recente, antes da publicação das medidas do governo — a precificação das opções de Copom negociadas na B3 indicava 63,50% de chances de alta de 25 pontos-base da Selic na próxima semana, contra 35,00% de probabilidade de manutenção. Na véspera, os percentuais eram quase iguais, de 50% e 48%, respectivamente.

Na prática, nos últimos dias os investidores voltaram a reforçar as apostas de que o BC precisará continuar subindo a Selic, por conta das dificuldades do governo em equilibrar a área fiscal.

No exterior, a divulgação de dados negativos de emprego nos EUA e a forte demanda em um leilão de títulos de 30 anos do Tesouro norte-americano mantinham os yields em baixa. Às 16h48 o rendimento do Treasury de dez anos — referência global para decisões de investimento — caía 6 pontos-base, a 4,355%.

 

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