Por Fernando Cardoso
SÃO PAULO (Reuters) – O dólar tinha leve baixa frente ao real nesta terça-feira, na contramão do exterior, à medida que um cenário doméstico mais favorável à moeda brasileira compensava a força da divisa norte-americana em outros mercados, com dados de empregos dos Estados Unidos em foco.
Às 9h47, O dólar à vista caía 0,29%, a 5,4334 reais na venda. Na B3, o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento tinha queda de 0,27%, a 5,455 reais na venda.
Nesta sessão, o real continuava a se fortalecer com a perspectiva de aumento do diferencial de juros entre Brasil e EUA, à medida que o Banco Central deve aprofundar seu ciclo de aperto monetário nas próximas reuniões e o Federal Reserve começa a reduzir a taxa de juros.
Muito sob influência desse fator, o dólar acumulou queda de 3,32% ante o real em setembro, e abriu outubro já devolvendo os ganhos da sessão anterior, quando fechou em alta de 0,24%, cotado a 5,4491 reais.
“Com a economia norte-americana com taxa de juros descendente e a economia brasileira com taxa de juros ascendente, isso é um fator que beneficia nossa moeda”, disse Matheus Massote, especialista em câmbio da One Investimentos.
Ele chamou a atenção, no entanto, para o fato de que a baixa variação pode ser consequência de uma percepção de que a política monetária nacional estaria sendo apertada apenas para “compensar todo o balanço de risco que pode ser causado pelo nosso cenário fiscal”.
O mercado brasileiro tem demonstrado preocupação contínua com o compromisso do governo em equilibrar as contas públicas, à medida que o Executivo persegue a meta de déficit primário zero para este ano.
Por sua parte, membros do BC, tanto em comentários quanto documentos oficiais, têm destacado o aquecimento da atividade econômica no país e seguem reiterando a busca pelo centro da meta de inflação.
Operadores veem 76% de chance de o BC elevar a Selic, atualmente em 10,75% ao ano, em 50 pontos-base no próximo encontro da autarquia, em novembro.
No cenário exterior, a moeda norte-americana subia amplamente ante seus pares, uma vez que comentários na véspera do chair do Fed, Jerome Powell, derrubaram as apostas de cortes grandes de juros pelo banco central dos EUA nas duas reuniões restantes do ano.
Em uma conferência, Powell disse ver mais 50 pontos-base acumulados de afrouxamento neste ano se a “economia tiver o desempenho esperado”, elevando as expectativas de operadores de que o Fed reduzirá os juros de forma gradual até o fim deste ano.
Os mercados veem agora 61% de chance de um corte de 25 pontos nos juros na reunião de novembro, uma mudança em relação à semana passada, quando operadores apostavam majoritariamente em uma redução de 50 pontos.
O dólar vinha acumulando perdas nas últimas semanas com as projeções de um afrouxamento mais agressivo por parte do Fed.
As atenções ao longo desta semana estarão voltadas a dados de emprego dos EUA, com destaque para o relatório de criação de vagas fora do setor agrícola na sexta-feira.
Nesta terça, às 11h, o foco será o relatório de vagas de emprego em aberto e rotatividade de mão de obra, conhecido como Jolts.
O índice do dólar — que mede o desempenho da moeda norte-americana frente a uma cesta de seis divisas — subia 0,43%, a 101,180.
Entre emergentes, o desempenho da divisa dos EUA era misto, com alta ante o rand sul-africano, mas perdas frente ao peso mexicano e ao peso colombiano.