Greves, manifestações e recordações marcam o 1º de maio, o Dia do Trabalho, que serve não apenas para comemorar as conquistas trabalhistas, mas também para refletir e lutar por mais dignidade nas relações de trabalho. Afinal, embora os trabalhadores tenham adquirido uma ampla gama de direitos, ainda existem enormes desafios a serem superados.
Um pouco sobre a história do Dia do Trabalho
Ao tratar dos direitos trabalhistas, é essencial destacar que uma parte significativa da história nacional foi marcada pela escravidão (1530–1888), um fato que continua a influenciar as relações de trabalho no Brasil. Somente após a abolição da escravatura, os trabalhadores assalariados passaram a ter maior visibilidade no cenário nacional, lutando por melhores condições. A chegada de imigrantes italianos e espanhóis impulsionou o movimento operário nas principais cidades industriais do país, resultando em greves e na consequente conquista de alguns direitos.
A Greve Geral de 1917 representou um marco importante na luta pelos direitos trabalhistas no Brasil. Naquela época, durante a Primeira República, não havia uma legislação trabalhista consolidada, e as condições de trabalho eram insalubres e desumanas. Diante disso, os trabalhadores se mobilizaram para reivindicar direitos essenciais, como jornada de trabalho reduzida, melhores salários e condições dignas. Essas reivindicações surtiram efeitos, embora o processo de regulamentação das relações de trabalho tenha ocorrido de forma gradual.
Ao longo da década de 1930, sob o governo de Getúlio Vargas, começaram a surgir as primeiras leis que tratavam de salário mínimo, jornada de trabalho e descanso semanal, entre outras garantias. Esses avanços culminaram, em 1943, na criação da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), que reuniu e organizou as normas existentes, regulamentando de forma sistemática as relações trabalhistas no país. Embora a CLT tenha sido elaborada durante o regime autoritário do Estado Novo, representou um marco na institucionalização dos direitos dos trabalhadores.
Mais tarde, a Constituição Federal de 1988 ampliou ainda mais a proteção aos direitos trabalhistas, assegurando garantias fundamentais, como o FGTS, o seguro-desemprego, a licença-maternidade, o repouso semanal remunerado, entre outros.
Desafios atuais:
Apesar das garantias estabelecidas pela Constituição de 1988, ainda persistem vários desafios neste dia do trabalho, tais como:
- Trabalho análogo à escravidão: Passados mais de 130 anos desde a abolição da escravatura, o Brasil ainda registra casos de trabalho em condições análogas à escravidão, apesar das proibições explícitas na legislação nacional — como o art. 5º, inciso III, da Constituição Federal, combinado com o art. 149 do Código Penal — e em tratados internacionais, como a Convenção nº 29 e a Convenção nº 105 da OIT, além do art. 4º da Declaração Universal dos Direitos Humanos. Práticas como jornadas exaustivas, servidão por dívidas e condições degradantes de trabalho continuam a ser recorrentes, evidenciando a persistência de estruturas herdadas do passado escravocrata.
- Precarização das relações de trabalho: A flexibilização recente da legislação trabalhista intensificou a terceirização e a informalidade, resultando em diminuição da proteção social e maior instabilidade nas relações de emprego. Práticas fraudulentas, como a pejotização, têm ganhado força, buscando driblar a legislação trabalhista ao mascarar vínculos empregatícios. A adoção da escala 6×1, embora prevista em lei, também reflete o cenário de precarização.
- Desigualdades estruturais: O acesso aos direitos trabalhistas continua sendo profundamente desigual, marcado por disparidades regionais, raciais e de gênero. Mulheres, pessoas negras, indígenas e trabalhadores das periferias enfrentam barreiras adicionais para alcançar condições dignas de trabalho, perpetuando um ciclo de exclusão social.
- Enfraquecimento da organização sindical: Nos últimos anos, tem se observado um expressivo enfraquecimento das entidades sindicais, reflexo da redução de seu financiamento e da perda de representatividade. Esse processo compromete a capacidade de articulação dos trabalhadores e os fragiliza diante das negociações coletivas e da formulação de políticas trabalhistas.
Diante do exposto, é evidente que, embora importantes conquistas trabalhistas tenham sido alcançadas ao longo dos anos, ainda persistem desafios significativos — tanto os historicamente enraizados quanto os que surgiram mais recentemente. Isso exige dos trabalhadores brasileiros, neste dia do trabalho, uma reflexão profunda e uma contínua luta sindical por condições de trabalho mais justas e dignas.
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