BELÉM/BRASÍLIA (Reuters) – Trabalhadores da construção civil de Belém, sede da COP30, decidiram entrar em greve nesta terça-feira, depois que a negociação com os empresários da área não avançou, em um movimento que pode afetar a preparação da cidade para receber a conferência, que vai ocorrer em menos de dois meses.
“É um absurdo, o governo federal está investindo R$4,7 bilhões nessas obras da COP, o governo do Estado e municipal R$1,3 bilhão e querem dar 5,5% de aumento para os trabalhadores. Então simplesmente os trabalhadores não aceitaram, querem um aumento maior no salário, aumento da cesta básica, a classificação das mulheres e pagamento para o dia 30″, disse Cleber Rabelo, diretor do sindicato dos trabalhadores da construção civil do Pará.
“Nós estamos discutindo: se não tem aumento, não vai ter COP”, acrescentou.
Depois de protestos na cidade durante a segunda e a terça-feira, uma assembleia dos trabalhadores decidiu pela greve por tempo indeterminado. O movimento, segundo o sindicato, afeta obras públicas de infraestrutura e também construções privadas, como hotéis que estão sendo renovados e construídos na cidade.
Atenar Lopes, coordenador do sindicato, garante que cerca de 80% das construções hoje estão paradas, inclusive da Vila de Líderes, hotel que está sendo construído para receber os chefes de Estado para a Cúpula que acontece nos dias anteriores à abertura da COP. A Reuters não conseguiu verificar de forma independente essas alegações.
Questionada sobre a greve, a Secretaria Extraordinária da COP30 (Secop), respondeu que “as negociações trabalhistas estão sendo conduzidas pelas partes competentes”.
“Ressaltamos que os preparativos para a Conferência continuam em curso e que o andamento das obras segue dentro do cronograma previsto”, diz o texto.
Os trabalhadores pedem um reajuste de 9% nos salários e aumento do pagamento da cesta básica de R$110 para R$270, além de um reajuste no programa de participação nos resultados de 30%.
Em nota, o Sindicato da Construção Civil do Pará (Sinduscon-PA), que reúne os empresários, informa que ofereceu 5,5% de reajuste, o que seria acima da inflação de 5,13%, além de R$120 de cesta básica e 3% na participação de resultados.
“Caso haja paralisação, o Sinduscon-PA ressalta que recorrerá aos instrumentos previstos em lei para resguardar a legalidade e a regularidade das atividades”, diz a nota.
A decisão de sediar a COP em Belém vem sendo alvo de críticas de outros países devido às dificuldades com hospedagens. Com pouca infraestrutura hoteleira estabelecida na cidade, os preços de hospedagem dispararam, chegando a custar 15 vezes os valores regulares.
O Brasil tem sido alvo de pressão de outros países para retirar a Conferência — ou ao menos parte dela — de Belém, mas o governo brasileiro já afirmou que não existe hipótese de mudança a dois meses da COP.
O governo federal também investiu recursos para melhorar a infraestrutura urbana de Belém, em áreas como saneamento e transporte, para receber a COP.
(Reportagem de Marx Vasconcelos, em Belém, e Lisandra Paraguassu, em Brasília)