Por Camila Moreira e Rodrigo Viga Gaier
SÃO PAULO/RIO DE JANEIRO (Reuters) – A produção industrial brasileira encerrou o segundo trimestre com crescimento acima do esperado em junho, quando houve o maior ganho de produção em quatro anos, em meio à retomada da atividade em áreas afetadas direta ou indiretamente pelas enchentes no Rio Grande do Sul.
Em junho, a produção teve alta de 4,1% na comparação com o mês anterior, bem acima da expectativa em pesquisa da Reuters de avanço de 2,4%.
Foi o maior crescimento mensal desde julho de 2020 (+9,1%), interrompendo dois meses seguidos de perdas e ultrapassando o patamar pré-pandemia ao ficar 2,8% acima de fevereiro de 2020. No entanto, o setor ainda está 14,3% abaixo do nível recorde alcançado em maio de 2011.
Os dados divulgados nesta sexta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostraram ainda expansão de 3,2% da indústria na comparação com o mesmo mês do ano passado, contra expectativa de 1,2%.
“Cabe destacar que o avanço mais acentuado observado em junho de 2024 está relacionado não só com a base de comparação depreciada, explicada pelos dois meses consecutivos de queda na produção, mas também pela volta à produção de várias unidades produtivas que foram direta ou indiretamente afetadas pelas chuvas ocorridas no Rio Grande do Sul em maio de 2024”, explicou o gerente da pesquisa, André Macedo.
“Plantas locais e em outra unidades da federação pararam, reduziram jornada ou até deram férias por falta de insumos e matérias-primas”, completou.
Com esses resultados, no segundo trimestre a produção aumentou 0,7% em relação aos três meses anteriores, marcando o terceiro trimestre seguido de avanço.
Analistas apontam que a indústria no país deve dar uma contribuição pequena para a atividade econômica neste ano, mas que ainda assim com chances de terminar com leve alta, favorecida por um cenário de mercado de trabalho aquecido, condições de créditos melhores e inflação sob controle.
“O crescimento da indústria deve contribuir para que o crescimento do PIB no segundo trimestre fique próximo do observado no trimestre encerrado em março. Os investimentos devem crescer, mas num ritmo menor”, avaliou o Bradesco em nota, projetando expansão de 2,3% da economia neste ano.
GANHOS
O IBGE destacou que, em junho, 16 das 25 atividades pesquisadas apresentaram ganhos, com as maiores influências positivas partindo de coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (4,0%); produtos químicos (6,5%); produtos alimentícios (2,7%) e indústrias extrativas (2,5%).
O setor de produtos químicos, “de forma direta ou indireta, sofreu com os impactos das chuvas que afetaram o Rio Grande do Sul”, disse Macedo. “Algumas plantas industriais tiveram paralisações. Com isso, o avanço observado em junho é, primordialmente, um fator de compensação, mas que suplanta a queda assinalada em maio.”
No setor de produtos alimentícios, que segundo o IBGE representa cerca de 15% da atividade industrial do Brasil, houve alta na produção de produtos importantes, como açúcar, produtos derivados de soja, suco de laranja e carnes de aves.
Entre as categorias econômicas, o destaque ficou para o aumento de 6,8% na fabricação de Bens de Consumo, com os Bens Intermediários em alta de 2,6% e os Bens de Capital avançando 0,5% sobre maio.