Por Michelle Nichols
NAÇÕES UNIDAS (Reuters) – A Organização das Nações Unidas tem se planejado para o possível retorno de Donald Trump e os cortes no financiamento e no envolvimento dos Estados Unidos com o órgão mundial que provavelmente virão com seu segundo mandato como presidente.
Houve uma sensação de “déjà vu e alguma apreensão” no órgão mundial de 193 membros, disse um diplomata asiático sênior, quando o republicano Trump venceu as eleições norte-americanas de terça-feira sobre a vice-presidente democrata Kamala Harris.
“Há também alguma esperança de que um governo transacional envolva a ONU em algumas áreas, mesmo que seja para retirar o financiamento de alguns dossiês. Afinal de contas, que palco global maior e melhor existe do que as Nações Unidas?”, disse o diplomata, falando sob condição de anonimato.
Um recuo dos EUA na ONU poderia abrir as portas para a China, que vem aumentando sua influência na diplomacia global.
Trump ofereceu poucos detalhes específicos sobre a política externa em seu segundo mandato, mas seus partidários dizem que a força de sua personalidade e sua abordagem de “paz por meio da força” ajudarão a submeter líderes estrangeiros à sua vontade. Ele prometeu resolver a guerra na Ucrânia e espera-se que dê forte apoio a Israel em seus conflitos com o Hamas e o Hezbollah em Gaza e no sul do Líbano.
Entre as principais preocupações da ONU estão se os Estados Unidos decidirão contribuir com menos dinheiro para o órgão mundial e se retirarão das principais instituições e acordos multinacionais, incluindo a Organização Mundial da Saúde e o acordo climático de Paris.
O financiamento dos EUA é a preocupação imediata. Washington é o maior contribuinte da ONU — com a China em segundo lugar — respondendo por 22% do orçamento principal da ONU e 27% do orçamento de manutenção da paz.
Um país pode ficar até dois anos em atraso antes de enfrentar a possível repercussão de perder seu voto na Assembleia Geral.
“EXTREMAMENTE DIFÍCIL”
Trump chegou ao poder da última vez propondo cortar cerca de um terço dos orçamentos da diplomacia e da ajuda dos EUA, o que incluía reduções acentuadas no financiamento para a manutenção da paz da ONU e organizações internacionais. Mas o Congresso, que define o orçamento federal do governo dos EUA, rejeitou a proposta de Trump.
Um porta-voz da ONU disse na época que os cortes propostos teriam impossibilitado a continuidade de todo o trabalho essencial.
“O secretariado da ONU sabia que poderia enfrentar um retorno de Trump durante todo o ano. Houve um planejamento prudente nos bastidores sobre como administrar possíveis cortes no orçamento dos EUA”, disse Richard Gowan, diretor da ONU no International Crisis Group.
“Portanto, (o secretário-geral da ONU, António) Guterres e sua equipe não estão totalmente despreparados, mas sabem que o próximo ano será extremamente difícil”, declarou ele.
A equipe de Trump não respondeu imediatamente a uma pergunta sobre sua política em relação à ONU depois que ele assumir o cargo em janeiro.