Por Fabricio de Castro
SÃO PAULO (Reuters) – O dólar se descolou do exterior nesta segunda-feira e fechou em alta ante o real no Brasil, depois de o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, reforçar as dúvidas do mercado sobre a capacidade de o governo atingir um resultado primário zero em 2024 — algo que já havia impulsionado a moeda norte-americana na sexta-feira, após declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
O dólar à vista fechou o dia cotado a 5,0480 reais na venda, em alta de 0,69%. Em outubro, a moeda norte-americana acumula até agora elevação de 0,41%.
Na B3, às 17:16 (de Brasília), o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento subia 0,58%, a 5,0480 reais.
Na sexta-feira, o dólar à vista já havia avançado 0,44% após Lula afirmar que a meta de resultado primário zero em 2024 “dificilmente” será alcançada e que o governo não quer cortar investimentos em obras.
Nesta segunda-feira, Haddad tentou minimizar e afirmou que o comentário de Lula não mostra descompromisso com a área fiscal.
“Quando falam ‘o presidente está sabotando o país’, não (é isso). O que está acontecendo é que o presidente está constatando os problemas advindos de decisões que precisam ser reformadas ou saneadas”, disse Haddad.
As explicações do ministro não convenceram, até porque ele não respondeu a repetidas perguntas sobre a manutenção da meta de déficit zero para 2024.
“(O ministro) não contestou Lula sobre o fiscal, e o mercado não gostou”, resumiu o diretor da Correparti Corretora, Jefferson Rugik. “O mercado já sabia que o primário zero em 2024 não será alcançado, mas sempre quer escutar as autoridades maiores. Depois de Haddad falar, quem ainda não estava posicionado para isso (o descumprimento da meta) foi ao mercado e atuou na compra (de dólares)”, acrescentou.
Neste cenário, o dólar à vista, que chegou a marcar a mínima de 4,9722 reais (-0,82%) às 9h16 — antes da fala de Haddad — saltou para a máxima de 5,0603 reais (+0,94%) às 13h56, já sob efeito dos comentários do ministro.
“O dólar precisava de um motivo para andar no Brasil, e andou após o Haddad”, comentou o diretor da consultoria Wagner Investimentos, José Faria Júnior, pontuando ainda que, no exterior, o dia foi marcado pela queda da moeda norte-americana ante a maioria das demais divisas. “Ficamos na contramão.”
Às 17:16 (de Brasília), o índice do dólar –que mede o desempenho da moeda norte-americana frente a uma cesta de seis divisas– caía 0,45%, a 106,120.
Pela manhã, o BC vendeu todos os 16.000 contratos de swap cambial tradicional ofertados na rolagem dos vencimentos de janeiro.
Em entrevista coletiva, Haddad também anunciou mais cedo dois novos nomes para o Banco Central a partir de 2024, indicados por Lula: o professor da Fundação Getulio Vargas (FGV) Paulo Picchetti, para a diretoria de Assuntos Internacionais e de Gestão de Riscos Corporativos, e o servidor de carreira da autarquia Rodrigo Alves Teixeira, para a diretoria de Relacionamento, Cidadania e Supervisão de Conduta.
Dois profissionais do mercado ouvidos pela Reuters receberam de forma positiva a indicação dos novos diretores. Teixeira seria um nome com pouco potencial de críticas, já que a diretoria de Relacionamento é tradicionalmente ocupada por servidores de carreira do BC. Já Picchetti foi elogiado por ter conhecimento técnico profundo sobre a inflação no Brasil.