Por Fernando Cardoso
SÃO PAULO (Reuters) – O dólar à vista recuava ante o real nesta quinta-feira, devolvendo alguns ganhos das últimas três sessões, com os investidores reagindo à decisão de política monetária do Banco Central do Brasil, enquanto aguardam o anúncio de um acordo tarifário entre Estados Unidos e Reino Unido.
Às 9h50, o dólar à vista caía 0,72%, a R$5,7029 na venda.
Na B3, o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento tinha baixa de 0,30%, a R$5,753 na venda.
Os movimentos do real nesta sessão refletiam um cenário de maior apetite por risco no exterior, após o presidente dos EUA, Donald Trump, afirmar que anunciará mais tarde um acordo tarifário com o Reino Unido, o primeiro desde que embarcou em uma série de negociações comerciais com seus parceiros.
Trump, que concederá coletiva de imprensa sobre o assunto às 11h (horário de Brasília), disse nesta quinta que o acordo com o Reino Unido será “completo e abrangente” e que “consolidará o relacionamento entre os EUA e o Reino Unido por muitos anos”.
A notícia reforçava o otimismo cauteloso dos mercados em relação à política tarifária norte-americana ao longo desta semana. Na terça-feira, EUA e China relataram que suas autoridades se reunirão neste fim de semana na Suíça a fim de reduzir as tensões comerciais.
Os mercados financeiros têm sido abalados desde que Trump anunciou uma série de tarifas abrangentes em 2 de abril, no chamado “Dia da Libertação”. Uma semana depois, ele forneceu uma pausa de 90 dias para a maioria das taxas, mantendo, no entanto, as tarifas sobre Pequim.
“Real está… refletindo o ambiente de maior otimismo e apetite por riscos no mercado internacional, principalmente porque a Casa Branca fará uma coletiva de imprensa para divulgar um acordo comercial com o Reino Unido”, disse Leonel Mattos, analista de Inteligência de Mercado da StoneX.
“Isso tem favorecido as esperanças dos investidores de que talvez as tensões comerciais possam começar a ser reduzidas daqui para frente, com a possibilidade de acordos”, completou.
Na véspera, os analistas também avaliaram a mais recente decisão do Federal Reserve, que manteve a taxa de juros inalterada e sinalizou que os membros observam riscos crescentes para o aumento da inflação e do desemprego em meio à incerteza sobre as tarifas.
Em coletiva de imprensa após a reunião, o chair do Fed, Jerome Powell, reforçou que o banco central dos EUA está sem pressa para reduzir os juros novamente, enquanto analisa os impactos das políticas do governo Trump sobre a economia.
Na cena doméstica, o mercado nacional também reagia à decisão do Banco Central, que elevou a taxa Selic em 0,5 ponto percentual no início da noite de quarta-feira, a 14,75% ano, e deixou em aberto seu próximo passo na reunião de junho.
Apesar da falta de “forward guidance”, a autarquia indicou a necessidade de uma dose alta de juros por período prolongado em meio a um cenário que segue marcado por expectativas de mercado desancoradas, projeções de inflação elevadas, resiliência na atividade e pressões no mercado de trabalho.
Segundo Mattos, a manutenção da Selic em patamar alto reforça o diferencial de juros entre Brasil e países de moedas mais fortes, como os EUA, o que pode sinalizar uma pressão baixista sobre o dólar ante o real à frente.
“O Copom ressaltando que vai manter uma política monetária mais restritiva, a meu ver, acaba indicando que o diferencial de juros brasileiro vai ficar mais elevado, o que ajuda na atração de investimentos estrangeiros”, disse Mattos.
“Eu acho que essa indicação de necessidade de uma política restritiva deve exercer pressão baixista sobre o real.”
Na frente de dados, o IBGE informou mais cedo que os preços ao produtor no Brasil recuaram em março pelo segundo mês seguido diante da queda nos preços dos alimentos.
O índice do dólar — que mede o desempenho da moeda norte-americana frente a uma cesta de seis divisas — subia 0,05%, a 99,947.