Por Simon Jessop e Alison Withers
BELÉM (Reuters) – Com os tufões que atingiram o Sudeste Asiático nesta semana, enquanto áreas da Jamaica e do Brasil ainda estão retirando os destroços de tempestades prejudiciais, os delegados da cúpula da COP30 no Brasil começaram a discutir a melhor forma de ajudar os vulneráveis a resistir à piora do clima e a outros extremos climáticos.
O tema da “adaptação” tem se tornado cada vez mais importante à medida que os países não conseguem controlar as emissões de gases causadores do aquecimento climático o suficiente para evitar o aquecimento extremo associado a desastres climáticos cada vez mais frequentes em todo o planeta. No mês passado, um relatório da ONU afirmou que somente os países em desenvolvimento precisariam de até US$310 bilhões por ano até 2035 para se prepararem.
Não está claro de onde virá esse dinheiro. Dez dos bancos de desenvolvimento do mundo, sob pressão para liberar mais dinheiro para ações climáticas, disseram na segunda-feira que continuariam a apoiar a necessidade.
“Vidas, bem-estar e empregos não podem ser sustentados onde casas, escolas, fazendas e empresas estão sob ameaça de inundações, secas ou outros extremos climáticos”, disseram os bancos em um comunicado. No ano passado, eles canalizaram mais de US$26 bilhões para economias de baixa e média renda para adaptação.
Separadamente, o diretor de um fundo multiparceiro da ONU disse à Reuters que em breve anunciará um novo título de impacto com o objetivo de arrecadar US$200 milhões até o final de 2026.
“Toda a ideia do título começou há exatamente um ano na COP anterior em Baku”, afirmou Markus Repnik, que lidera o Mecanismo de Financiamento de Observações Sistemáticas apoiado pela Organização Meteorológica Mundial, pelo Programa de Desenvolvimento da ONU e pelo Fundo Ambiental da ONU. “Estávamos tendo a sensação de que as coisas iriam mudar significativamente de uma perspectiva internacional.”
O fundo, que também trabalha para preencher as lacunas nos dados meteorológicos para os países em desenvolvimento, espera receber doações de países nesta semana durante a COP30.
Na segunda-feira, Alemanha e Espanha prometeram US$100 milhões para um esforço diferente, o Fundo de Investimento Climático (CIF) multilateral, que está financiando projetos para aumentar a resiliência climática nos países em desenvolvimento.
A chefe da organização elogiou o Brasil por incluir a questão como foco da COP30, depois de anos vendo o assunto passar despercebido nas agendas das cúpulas climáticas da ONU.
“Estamos realmente entusiasmados que, pela primeira vez, a adaptação é o primeiro e o segundo dia da COP”, disse à Reuters a presidente-executiva da CIF, Tariye Gbadegesin.
PERIGOS CRESCENTES, CUSTOS MAIS ALTOS
O Vietnã estimou os custos iniciais do tufão Kalmaegi em quase US$300 milhões, um mês após o tufão Bualoi ter causado US$436 milhões em danos materiais. As Filipinas ainda estão contabilizando os danos causados pelo Kalmaegi e pelo mortal supertufão Fung-wong, que atingiu o país nesta semana.
A Jamaica está contabilizando até US$7 bilhões em danos, ou cerca de um terço do seu PIB, causados pelo furacão Melissa no mês passado, de acordo com estimativas preliminares do governo.
Além das tempestades, há danos causados por enchentes, calor extremo, secas e incêndios florestais. Mais esforços de adaptação devem ser anunciados na COP30, desde o financiamento de condicionadores de ar e ventiladores para pessoas que sofrem com o calor extremo até o mapeamento de IA das condições do solo para melhorar a produtividade das colheitas.
Fora das proteções nacionais, cerca de 86 milhões de refugiados — ou três quartos da população total do mundo deslocada por conflitos — também estão expostos a riscos climáticos extremos, de acordo com um relatório do Acnur na segunda-feira.
O chefe do clima da ONU, Simon Stiell, pediu aos países que fechem um acordo sobre como acompanhar o progresso para acelerar as mudanças em água, saneamento, saúde e outras áreas.
“Agora precisamos chegar a um acordo sobre os indicadores que ajudarão a acelerar a implementação, para liberar seu potencial”, disse ele.
Atrair dinheiro privado para a causa pode ser difícil. Os projetos de resiliência têm menos probabilidade de proporcionar um alto retorno sobre o investimento do que os projetos de energia renovável que ajudariam a reduzir as emissões de gases de efeito estufa.
Um relatório de setembro da Zurich Climate Resilience Alliance afirmou que o financiamento público continua sendo crucial. Atualmente, o financiamento privado representa apenas 3% do financiamento da adaptação, que poderia aumentar para 15% com políticas de apoio, disse.
“Precisamos de recursos que fluam diretamente para os parceiros e comunidades locais que já estão liderando a resposta — reconstruindo casas, restaurando os meios de subsistência e protegendo os sistemas de saúde contra choques climáticos”, disse David Nicholson, diretor de clima da Mercy Corps, membro da ZCRA.
(Reportagem de Simon Jessop em Belém, Brasil, e Ali Withers em Copenhague)




