Por Kate Abnett e Simon Jessop e Lisandra Paraguassu
BELÉM (Reuters) – Uma questão existencial paira sobre a cúpula da COP30 deste ano no Brasil: para que servem realmente as negociações climáticas anuais da ONU?
Mais de 30 anos de negociações sobre ações globais para combater a mudança climática resultaram em progresso, incluindo o aumento da expansão da energia renovável e dos fundos climáticos — mas não o suficiente. As emissões continuam crescendo. As temperaturas ainda estão subindo.
Isso gerou cada vez mais pedidos de reforma das cúpulas da Conferência das Partes, especialmente porque as negociações climáticas foram projetadas para estabelecer metas globais e revisar seu progresso, mas não para intervir para acelerar os esforços em campo.
A Reuters entrevistou mais de 30 especialistas sobre o assunto, incluindo diplomatas, ex-negociadores da ONU, ministros de governo, ativistas, investidores e executivos de bancos de desenvolvimento de países ricos e em desenvolvimento.
Muitos descreveram o processo liderado pela ONU como necessitando de uma atualização para se adequar à tarefa que tem pela frente: transformar anos de promessas da COP em ações no mundo real.
“Precisamos deixar de lado as comemorações informais em torno das negociações e passar a fazer esforços realmente concentrados para acelerar a implementação”, disse um negociador europeu. “Esta é provavelmente a última das antigas COPs e o início da nova.”
Mas mesmo aqueles que concordam que as COPs precisam de uma reformulação não concordam sobre como isso deve ser feito.
Aqueles que desconfiam da reforma dizem que ela não poderia acontecer em um momento pior. Com a política anticlimática tomando conta dos Estados Unidos e alguns outros países diluindo as políticas verdes, eles temem que uma revisão possa sair pela culatra e levar a algo pior.
“Em uma época em que o debate sobre o clima é tão vulnerável, abrir um processo de reforma poderia significar que seríamos capturados pelos negacionistas do clima”, disse o ex-ministro do Meio Ambiente do Peru Manuel Pulgar Vidal.
A ONU está entre os que buscam uma mudança. O chefe do secretariado climático da ONU, Simon Stiell, criou um grupo de 15 ex-líderes mundiais, diplomatas, ministros, representantes de empresas e indígenas para aconselhar sobre como tornar as COPs adequadas para a próxima década. O grupo apresentará suas recomendações nas próximas semanas, disseram dois membros à Reuters.
Stiell afirmou à Reuters que o processo da COP proporcionou um progresso real, observando que as últimas promessas climáticas dos países reduziriam as emissões globais em 12% dos níveis de 2019 até 2035, marcando o primeiro declínio constante.
“Mas nesta nova era, precisamos evoluir e melhorar para acelerar… Mas também devemos ser claros sobre quem pode mudar o quê”, disse ele.
Um membro do grupo consultivo, o cientista climático Johan Rockstroem, afirmou que “nada estava fora da mesa” enquanto debatiam opções que iam desde permitir decisões por voto majoritário até a reestruturação do formato da cúpula anual.
“No final, o que importa é começar a cumprir os acordos”, disse Rockstroem à Reuters.
GRANDES PROMESSAS, PALAVRAS NÃO CUMPRIDAS
Um documento da ONU vazado e visto pela Reuters mostra que uma força-tarefa interna da ONU propôs este ano a inclusão do órgão climático da ONU em outro departamento e perguntou “se a COP na forma atual deveria ser descontinuada”.
Embora a proposta seja considerada improvável, ela foi vista por alguns diplomatas como um aviso para que “se organizem”, disse à Reuters o negociador climático da ONU de um país europeu.
Isso inclui reduzir as agendas pesadas e o tempo gasto com a burocracia técnica.
“O sistema não está funcionando. Estamos literalmente nos afogando em papelada”, afirmou Juan Carlos Monterrey, negociador panamenho da COP, à Reuters.
Reconhecendo a frustração com o ritmo lento do progresso, o Brasil, país anfitrião, pediu às partes da COP30 que evitassem novas promessas este ano e, em vez disso, trabalhassem em como cumprir promessas antigas.
O Brasil propôs a criação de um conselho apoiado pela ONU para visitar e verificar se os países estão cumprindo suas promessas na COP.
Os governos que participam das negociações da COP30 também estão se esforçando para desenvolver a diplomacia climática global.
Pela primeira vez, os países estão considerando um acordo final da COP que definiria a intenção da diplomacia climática mundial de “fazer a transição das negociações para a implementação”, de acordo com uma nota publicada pelo presidente brasileiro da COP30 no domingo.
(Reportagem de Kate Abnett, Simon Jessop, Lisandra Paraguassu e Valerie Volcovici; reportagem adicional de William James)




