Por Valerie Volcovici e Katy Daigle e William James
BELÉM (Reuters) – A cúpula climática COP30 foi aberta nesta segunda-feira com o chefe climático da ONU pedindo aos países que cooperem uns com os outros em vez de brigar por prioridades.
O Brasil, país anfitrião, intermediou um acordo sobre a agenda para a cúpula de duas semanas na cidade amazônica de Belém, afastando as tentativas de blocos de negociação dos países em desenvolvimento de incluir questões controversas como financiamento climático e impostos sobre o carbono nas negociações.
Não ficou claro se os países pretendem negociar um acordo final para o encerramento do evento — uma proposta difícil em um ano de política global turbulenta e esforços dos EUA para obstruir uma transição para longe dos combustíveis fósseis.
Alguns agentes, inclusive o Brasil, sugeriram que os países se concentrassem em esforços menores que não precisassem de consenso, depois de anos de cúpulas da COP fazendo promessas grandiosas que acabaram não sendo cumpridas.
“Nesta arena da COP30, seu trabalho aqui não é lutar uns contra os outros — seu trabalho aqui é lutar contra essa crise climática, juntos”, disse o secretário executivo de Mudanças Climáticas da ONU, Simon Stiell, aos delegados de mais de 190 países presentes.
Ele disse que três décadas de negociações climáticas da ONU ajudaram a diminuir a curva do aquecimento projetado, “por causa do que foi acordado em salas como esta, com governos legislando e mercados respondendo. Mas não estou sendo brando. Temos muito mais trabalho a fazer”.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva alertou contra os interesses que tentam obscurecer os perigos das mudanças climáticas.
“Eles atacam as instituições, a ciência, as universidades”, disse ele. “É momento de impor uma nova derrota aos negacionistas.”
O maior emissor histórico de gases de efeito estufa do mundo — os Estados Unidos — optou por não participar da cúpula, enquanto o presidente dos EUA, Donald Trump, afirma falsamente que a mudança climática é uma farsa.
O governador da Califórnia, Gavin Newsom, e a governadora do Novo México, Michelle Lujan Grisham, eram esperados em Belém na terça-feira.
“Que diabos está acontecendo aqui?”, disse Newsom sobre a ausência do governo dos EUA nas negociações, discursando em uma cúpula de investidores globais realizada nesta segunda-feira em São Paulo.
“Estamos no Brasil, um de nossos grandes parceiros comerciais, uma das maiores democracias do mundo. Quero dizer, poxa, é a casa de todos os metais de terras raras que precisamos. Esse é o país com o qual deveríamos estar nos relacionando, em vez de dar o dedo do meio com tarifas de 50%”, disse Newsom, referindo-se às tarifas impostas pelo governo Trump.
A Alemanha disse que os países europeus pressionariam por compromissos para controlar o uso de combustíveis fósseis — uma meta promovida por Lula.
“Defenderemos algo forte”, disse o vice-ministro alemão Jochen Flasbarth à Reuters. “Não queremos seguir o mesmo caminho do presidente Trump e acusar os outros de estarem errados. Queremos ouvir.”
SINAIS DE ALERTA
Os países foram acompanhados por líderes indígenas, que chegaram no domingo de barco depois de viajar cerca de 3.000 km dos Andes. Eles estão exigindo mais voz sobre como seus territórios são administrados à medida que a mudança climática aumenta e setores como mineração, extração de madeira e perfuração de petróleo se aprofundam nas florestas.
“Queremos ter certeza de que eles não continuarão prometendo, que começarão a proteger, porque nós, como povos indígenas, somos os que sofrem com os impactos das mudanças climáticas”, disse Pablo Inuma Flores, líder indígena do Peru.
Cientistas de dezenas de universidades e instituições científicas internacionais soaram o alarme sobre o derretimento das geleiras, das camadas de gelo e de outras regiões congeladas do planeta.
“A criosfera está se desestabilizando em um ritmo alarmante”, disseram os grupos em uma carta à COP30 publicada nesta segunda-feira. “As tensões geopolíticas ou os interesses nacionais de curto prazo não podem ofuscar a COP30. A mudança climática é o desafio definitivo de segurança e estabilidade de nosso tempo.”
Em uma entrevista no domingo, o presidente da COP30, André Corrêa do Lago, observou o aumento da importância da China nas negociações.
“Os países emergentes estão aparecendo nesta COP com um papel diferente. A China está chegando com soluções para todos”, disse Corrêa do Lago à Reuters e a outros veículos de mídia, acrescentando que as tecnologias verdes baratas da China estão agora liderando a transição energética em todo o mundo.
“Você começa a reclamar que a China está movimentando o PIB em todo o mundo”, disse ele. “Isso é ótimo para o clima.”




