Por Bruno Kelly
MANAUS (Reuters) -Nas profundezas da Amazônia brasileira, cientistas construíram uma “máquina do tempo” que bombeia dióxido de carbono no dossel da floresta para simular as condições atmosféricas previstas para o futuro, com o objetivo de avaliar como o bioma se adapta — uma questão em aberto a ser discutida na cúpula climática da ONU COP30, em Belém, no próximo mês.
No projeto AmazonFACE, próximo a Manaus, a maior cidade da Amazônia, seis anéis se erguem acima do dossel da floresta apoiados em torres de aço, cada um cercando grupos de 50 a 70 árvores maduras.
Após o teste de linha de base, os cientistas fumigarão as árvores em três dos anéis com dióxido de carbono em níveis que simulam as previsões climáticas para as próximas décadas, enquanto as demais servirão como amostras de controle.
“Estamos tentando criar a atmosfera do futuro”, disse Carlos Quesada, coordenador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), que está conduzindo o experimento juntamente com a Unicamp.
A preservação de florestas tropicais como a Amazônia é vital para conter os piores efeitos das mudanças climáticas, de acordo com os cientistas. Na conferência da ONU sobre o clima em Belém, onde a Bacia Amazônica se encontra com o Oceano Atlântico, os formuladores de políticas devem lidar com a incerteza sobre como a floresta tropical pode se adaptar a um planeta em aquecimento e a uma atmosfera em mudança.
O FACE, abreviação de Free-Air CO2 Enrichment (enriquecimento de CO2 ao ar livre), permitirá que Quesada e sua equipe de cientistas estudem os efeitos dos níveis elevados de dióxido de carbono sobre as árvores gigantes da floresta tropical e a vida vegetal circundante. O projeto conta com o apoio dos governos do Brasil e do Reino Unido.
Embora os experimentos do FACE tenham sido realizados em todo o mundo — inclusive nos Estados Unidos, onde o Departamento de Energia testou biomas temperados — o AmazonFACE representa uma nova fronteira, disse o engenheiro florestal Gustavo Carvalho.
“Este é o primeiro experimento em uma floresta natural desse porte nos trópicos”, disse Carvalho sob a sombra da copa das árvores da Amazônia.
Com os testes de base em andamento, os sensores registram a resposta da floresta às mudanças nas condições a cada 10 minutos, mostrando como a folhagem das árvores absorve dióxido de carbono e libera oxigênio e vapor de água em resposta à chuva, tempestades e Sol, disse Carvalho.
Experimentos posteriores criarão microclimas artificiais com níveis mais altos de dióxido de carbono.
“Se um modelo prevê uma determinada quantidade (de dióxido de carbono na atmosfera) em 2050 ou 2060, aumentaremos essa quantidade nessas parcelas para tentar entender como a floresta responde”, disse Carvalho. “Teremos uma pequena parcela aqui na floresta na qual poderemos entrar e saber o que acontecerá no futuro.”
((Tradução Redação Rio de Janeiro))
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