(Reuters) – O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, disse nesta terça-feira ser apropriado tratar da desancoragem das expectativas de inflação e que é importante comunicar a seriedade da autoridade monetária em relação à meta, ao mesmo tempo em que reiterou que será difícil que o país conviva com juros muito mais baixos do que o patamar atual sem um choque fiscal positivo.
Durante entrevista concedida em Washington à CNBC, divulgada no site da emissora norte-americana nesta tarde, Campos Neto foi questionado sobre o fato de o Brasil estar em um momento de elevação dos juros, enquanto outros países estão em processo de cortes.
“Estamos em diferentes ciclos. O Brasil foi o primeiro a elevar (a taxa de juros), e agora foi o primeiro a cortar. E no caso do Brasil o que estamos vendo é que a economia está muito resiliente, o mercado de trabalho está muito apertado, começamos a ver um hiato do produto que estava no lado positivo”, avaliou.
Ele destacou que tanto as projeções de inflação do BC quanto as expectativas de mercado para o comportamento dos preços à frente passaram a desancorar em meio a esse cenário.
“Então, achamos que é apropriado neste momento começar a tratar desta questão. É muito importante comunicar às pessoas que somos sérios em atingir o alvo (da meta), porque o Brasil tem uma grande memória de inflação.”
O centro da meta de inflação contínua perseguida pelo BC é de 3%. A margem de tolerância é de 1,5 ponto percentual. Nos cálculos mais recentes do mercado, divulgados no relatório Focus do BC, a projeção de inflação para 2024 está em 4,50% — no teto da meta — e para 2025 está em 3,99%.
FISCAL
Na entrevista, o presidente do BC voltou a avaliar que o Brasil precisa mostrar um choque fiscal positivo para que possa conviver estruturalmente com níveis mais baixos de juros.
“É muito difícil imaginar uma situação na qual a gente consiga viver com juros muito mais baixos do que hoje a menos que sejamos capazes, de alguma forma, de produzir um choque positivo no fiscal”, disse.
Questionado sobre críticas em relação à sua isenção no comando do BC, ele voltou a afirmar que o órgão subiu juros durante a campanha eleitoral de 2022, que tinha como candidato à reeleição Jair Bolsonaro, que o indicou ao cargo na autoridade monetária. Ele justificou que esteve próximo do governo anterior porque buscava aprovar a autonomia operacional do BC.
Em relação ao cenário internacional, Campos Neto afirmou que a expectativa é de que os Estados Unidos tenham um pouso suave da economia, o que será relevante para o mundo.
Ele ponderou que a campanha eleitoral nos Estados Unidos indica que o próximo governo terá políticas inflacionárias independente de quem vencer o pleito, o que pode fazer com que o país norte-americano não tenha juros tão baixos quanto poderiam — um cenário que impacta a política monetária de economias emergentes.
Ainda sobre o ambiente internacional, ele destacou que há perspectiva de que a China passe a crescer menos à frente, diante de barreiras comerciais ao redor do mundo, o que pode gerar implicações para o Brasil.
(Por Bernardo Caram, reportagem adicional de Camila Moreira e Fabrício de Castro)