Por Kate Abnett e Lisandra Paraguassu e Sudarshan Varadhan
BELÉM (Reuters) – O Brasil disse nesta terça-feira que ainda espera chegar a um acordo sobre algumas das questões mais controversas da cúpula climática COP30 antes do previsto, mas admitiu que ainda há grandes diferenças entre os países em questões como combustíveis fósseis.
A cúpula de duas semanas na cidade amazônica de Belém reúne governos de várias partes do mundo para fortalecer a complexa estrutura da ONU que sustenta a ação global para deter o aumento da temperatura e lidar com os danos causados por ele.
O Brasil, país anfitrião, quer um acordo em duas etapas: um pacote na quarta-feira, incluindo itens que, há uma semana, eram considerados espinhosos demais para serem incluídos na agenda formal, e outro que encerre as questões pendentes até sexta-feira.
Confirmando que os negociadores trabalhariam até tarde da noite pelo segundo dia consecutivo, o presidente da COP30, André Corrêa do Lago, disse que ainda esperava que o primeiro acordo fosse aprovado na quarta-feira, mas que poderia ser “muito tarde”.
Nesta terça-feira, invocando o conceito brasileiro de “mutirão”, a presidência da COP30 divulgou um primeiro esboço de um possível acordo de cúpula intitulado “Mutirão Global: unindo a humanidade em uma mobilização global contra as mudanças climáticas”.
GUTERRES E LULA
O secretário-geral da ONU, António Guterres, retornou a Belém nesta terça-feira e se reunirá com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva na quarta-feira.
Lula disse que a reunião visa “fortalecer a governança climática e o multilateralismo”.
Dentre a lista de tópicos mais difíceis, está a definição de como os países ricos vão fornecer financiamento para que os países mais pobres façam a transição para energia limpa e o que deve ser feito com relação à lacuna entre os cortes de emissões prometidos e os necessários para impedir o aumento das temperaturas.
Algumas nações, incluindo o Brasil, querem um roteiro para ajudar os países a implementar um acordo alcançado na COP28 em 2023 para eliminar gradualmente o uso de combustíveis fósseis, embora a minuta do acordo tenha listado isso apenas como uma inclusão opcional.
“A referência atual no texto é fraca e é apresentada como uma opção. Ela deve ser reforçada e adotada”, disse Tina Stege, enviada climática das Ilhas Marshall, em uma coletiva de imprensa ao lado de representantes de mais de uma dúzia de países que a apoiam.
Mais tarde, Corrêa do Lago indicou que a opção que prevê que os países apresentem planos para reduzir o uso de combustíveis fósseis já havia sido rejeitada por vários outros países por ser considerada muito onerosa.
“A maioria dos países ou é muito favorável ou é uma linha vermelha”, disse ele.
DIFERENÇAS PERMANECEM
Dois negociadores e dois observadores externos, que têm permissão para participar das negociações, descreveram separadamente à Reuters uma ampla gama de divergências que ainda não foram resolvidas.
Questões como o fornecimento de financiamento há muito tempo colocam os países desenvolvidos, muitos dos quais estão lidando com finanças públicas apertadas e prioridades domésticas concorrentes, incluindo segurança, contra as nações mais vulneráveis, como pequenos Estados insulares sob a ameaça existencial da elevação dos mares.
Algumas dessas diferenças foram capturadas em esboço da presidência da COP30, que apresentou uma ampla gama de opções para a redação final das principais questões, dando poucos sinais de onde o acordo final chegaria.
Um observador afirmou à Reuters que os delegados estavam com dificuldades para avançar em direção a acordos.
“Os textos propostos divulgados hoje mostram algum progresso, mas ficam bem aquém do nível de ambição que esta COP exige”, disse Rachel Cleetus, diretora sênior de políticas para o programa de Clima e Energia da Union of Concerned Scientists.



