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O Papel dos Princípios Constitucionais no Tribunal do Júri

Imagem de uma audiência no tribunal do júri com o juiz usando um martelo de julgamento, simbolizando o poder da justiça e o processo judicial.

No art. 5º, XXXVIII, a Constituição Federal brasileira de 1988 reconhece o Tribunal do Júri como uma garantia fundamental, protegida por cláusula pétrea. Além disso, assegura uma ampla gama de princípios que garantem sua legitimidade. Ao longo deste texto, serão explorados esses princípios constitucionais, aprofundando os estudos sobre o Tribunal do Júri.

Inicialmente, como já tratado em textos anteriores deste Blog, como “Tribunal do Júri, tudo o que você precisa saber” e “Plenário do Tribunal do Júri: Da Teoria à Prática”, o júri é a instituição responsável pelo julgamento dos crimes dolosos contra a vida, como determina o art. 74, § 1º do Código de Processo Penal. Esta organização se diferencia dos demais julgamentos por ter a participação de 7 (sete) cidadãos brasileiros, além de 1 (um) juiz togado. Superadas essas temáticas, é essencial explorar um pouco de cada princípio constitucional no Tribunal do Júri, que desempenham a importante função de garantir julgamentos legítimos e eficazes.

Princípios Constitucionais Fundamentais:

Os princípios constitucionais do Tribunal do Júri estão regulamentados pelo art. 5º, XXXVIII da CF/88, sendo eles:

  1. Plenitude de Defesa: Este princípio, pilar constitucional do júri e presente na alínea “a” do anteriormente citado art. 5º, XXXVIII da CF/88, admite todas as formas de argumentação que possam convencer os jurados — tanto as convencionais quanto discursos emocionais, morais, filosóficos e sociais. Trata-se de uma forma própria e mais ampla de defesa, exclusiva do júri

  2. Sigilo das Votações: Pensando na necessidade de proteção da liberdade de convicção, segurança pessoal e imparcialidade dos jurados, a Constituição Federal, na alínea “b” do já citado artigo, garante o sigilo das votações. Essa prerrogativa assegura que as decisões dos jurados sejam tomadas de forma secreta, individual e protegida, com base na livre convicção do jurado e sem retaliações externas.

  3. Soberania dos Veredictos: A alínea “c” do mesmo artigo determina o respeito às decisões dos jurados, sem a possibilidade do juiz togado reformular esse veredito por mera discordância de seu conteúdo. Dessa forma, esse princípio protege a função democrática do júri, visto que se dá espaço efetivo para a participação popular. Em casos excepcionais, é possível haver anulação da decisão do júri, por meio de recurso de apelação, conforme estabelece o art. 593, inciso III, em casos de nulidade após a pronúncia (alínea “a”), desrespeito à lei ou à decisão do júri (alínea “b”), erro na pena ou na medida de segurança (alínea “c”) e decisão manifestamente contrária às provas dos autos (alínea “d”).

  4. Competência para o julgamento dos crimes dolosos contra a vida: Por fim, a alínea “d” do art. 5º, inciso XXXVIII da CF/88 determina a competência do júri para julgar os crimes dolosos contra a vida, ou seja, aqueles delitos em que o agente criminoso age com a intenção de cometer o crime contra a vida de alguém. São os crimes previstos nos arts. 121, §§ 1º e 2º (homicídio simples, qualificado, feminicídio), 122, § 1º (induzimento, instigação ou auxílio ao suicídio ou à automutilação com resultado morte), 123 (infanticídio), 124, 125, 126 e 127 (aborto), do Código Penal, consumados ou tentados.

Desafios e Importância:

Outros princípios aplicáveis ao júri podem ser encontrados no CPP, como o da publicidade dos atos processuais (art. 792, caput e § 1º), imparcialidade dos jurados (art. 463, §1º e §2º), juiz natural e devido processo legal (arts. 406 a 497), e contraditório e ampla defesa, que complementam os princípios constitucionais anteriormente descritos.

Esses princípios são fundamentais para que o Tribunal do Júri consiga atuar com legitimidade, uma vez que sua estrutura enfrenta desafios bastante peculiares, sendo necessárias proteções adicionais específicas. Por exemplo, a problemática da pressão midiática sobre as decisões dos jurados pode ser parcialmente contornada pela possibilidade de julgamentos a portas fechadas (art. 792, §1º do CPP), isolamento dos jurados durante o julgamento (art. 466, §1º do CPP), entre outros.

Leituras para ampliar os conhecimentos sobre Tribunal do Júri:

Para aqueles interessados em aprofundar seus conhecimentos sobre o Tribunal do Júri e seus princípios constitucionais, a Livraria RT oferece uma variedade de livros relevantes:

Manual do Tribunal do Júri – 4ª Edição, de Rodrigo Faucz e Daniel Avelar”: A 4ª edição do Manual do Tribunal do Júri, revisada e atualizada, aborda todos os aspectos do Tribunal do Júri, sempre por uma perspectiva constitucional. O livro discute temas fundamentais para compreender o júri popular, como sua origem histórica, os princípios constitucionais, a primeira e a segunda fase do procedimento, a parte recursal, além de propostas legislativas em andamento e diversos aspectos críticos fundamentais para discutir a matéria.

Também analisa pontos sensíveis e atuais, como presunção de inocência, ausência de motivação nas decisões do Conselho de Sentença, uso do inquérito policial na fase de pronúncia e no julgamento, possibilidade de gravação das sessões, representatividade social no sorteio dos jurados, execução da pena após decisão do júri, dentre tantos outros.

Portanto, conclui-se que os princípios constitucionais previstos no art. 5º, XXXVIII, da Constituição Federal constituem a base que sustenta o funcionamento legítimo do Tribunal do Júri. Garantem não só a participação popular, mas também a proteção dos direitos fundamentais no julgamento dos crimes dolosos contra a vida. Compreender esses princípios é fundamental para assegurar que o júri continue a atuar de forma justa, democrática e eficiente, reafirmando seu papel como instrumento essencial do Estado Democrático de Direito.

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