Por Lisandra Paraguassu e Anthony Boadle
RIO DE JANEIRO (Reuters) – O ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, abriu nesta quarta-feira o encontro de chanceleres do G20 com um chamado para as maiores economias do mundo tirarem as organizações internacionais da inação e afirmou que o grupo tem obrigação de liderar o mundo em direção ao desenvolvimento.
“As instituições multilaterais, contudo, não estão devidamente equipadas para lidar com os desafios atuais, como demonstrado pela inaceitável paralisia do Conselho de Segurança em relação aos conflitos em curso. Esse estado de inação implica diretamente perdas de vidas inocentes”, disse o ministro brasileiro.
O encontro que começou nesta quarta é o primeiro de chanceleres e que abre o caminho para as negociações que devem levar, de acordo com a agenda proposta pelo Brasil, de uma reforma da governança global.
O fórum, avaliou Mauro Vieira, é hoje o único em que é possível forças opostas se sentarem à mesa — o que pode ser exemplificado com os ministros das Relações Exteriores dos Estados Unidos, Antony Blinken, e da Rússia, Sergey Lavrov, presentes no encontro.
“Diante do quadro que vivemos, este grupo é hoje, possivelmente, o foro internacional mais importante onde países com visões opostas ainda conseguem se sentar à mesa e ter conversas produtivas, sem necessariamente carregar o peso de posições arraigadas e rígidas que têm impedido avanços em outros foros, como o Conselho de Segurança”, afirmou.
“Na nossa visão, o G20 pode e deve desempenhar um papel fundamental para a redução das tensões internacionais, bem como no avanço da agenda de desenvolvimento sustentável.”
Em duas sessões, uma nesta quarta e outra na quinta pela manhã, os chanceleres se dedicarão a discutir as tensões globais e a reforma da governança global, um dos temas centrais da presidência brasileira.
Com a guerra na Ucrânia entrando em seu terceiro ano, somada ao ataque de Israel a Gaza, os conflitos globais viraram o centro das discussões no G20. Vieira lembrou que no ano passado o número de guerras, internas e externas, ocupações e outros, chegou a 170 no mundo, não se limitando às que chamam mais a atenção da comunidade internacional.
“O Brasil não aceita um mundo em que as diferenças são resolvidas pelo uso da força militar. Uma parcela muito significativa do mundo fez uma opção pela paz e não aceita ser envolvida em conflitos impulsionados por nações estrangeiras. O Brasil rejeita a busca de hegemonias, antigas ou novas. Não é do nosso interesse viver em um mundo fraturado”, defendeu.
Vieira lembrou ainda que o mundo tem enormes problemas a resolver em relação a fome, pobreza, mudanças climáticas e falta de recursos para financiar a melhoria da qualidade de vida da maior parte da população mundial.
Enquanto as despesas com defesa chegam a 2 trilhões de dólares por ano, os recursos para programas de desenvolvimento seguem parados em 60 bilhões de dólares por ano, e para o Acordo de Paris de mudanças climáticas não se conseguiu chegar aos 100 bilhões de dólares por ano prometidos.
“Não podemos ignorar o fato de que a governança global precisa de profunda reformulação. Nossas diferenças devem ser resolvidas ao amparo do multilateralismo e das Nações Unidas, utilizando como métodos o diálogo e a cooperação, e nunca por meio de conflitos armados”, disse.
“À medida que o G20 avança nas discussões sobre seu papel diante das tensões internacionais em curso, encorajo todos os países a iniciarem o diálogo reiterando seus compromissos sob a Carta das Nações Unidas e rejeitando publicamente o uso da força, a intimidação, as sanções unilaterais, a espionagem, a manipulação em massa de mídias sociais e quaisquer outras medidas incompatíveis com o espírito e as regras do multilateralismo como meio de lidar com as relações internacionais.”