Por Ali Sawafta e Suleiman Al-Khalidi
RAMALLAH (Reuters) – Expulsa de Gaza há duas décadas pelo Hamas, sem dinheiro e com sede na Cisjordânia ocupada por Israel, a Autoridade Palestina há muito tempo viu diminuírem suas esperanças de administrar um futuro Estado palestino.
Suas perspectivas, no entanto, pareceram se iluminar brevemente nesta segunda-feira, quando o presidente dos EUA, Donald Trump, anunciou um plano para acabar com a guerra de Gaza. O plano sugere um papel futuro para a Autoridade Palestina e seu líder de 89 anos, o presidente Mahmoud Abbas, que não enfrenta uma eleição desde 2005.
Porém, os termos estabelecidos no plano de 20 pontos de Trump exigem que a Autoridade Palestina realize reformas difíceis antes de poder governar Gaza novamente, estabelecendo um caminho complicado para seu retorno ao território — onde Israel diz que ela não pode desempenhar nenhum papel e onde enfrenta a oposição de seu rival de longa data, o Hamas.
“CAMPOS MINADOS” PARA A AUTORIDADE PALESTINA
Embora seus laços com Washington tenham oscilado bastante ao longo dos anos, a Autoridade Palestina é reconhecida pela ONU, pela União Europeia, pela Liga Árabe e pela maioria dos países do mundo como representante legítima do povo palestino.
Ela tem sido a principal interlocutora dos esforços internacionais para resolver o conflito israelense-palestino e chegar a uma solução de dois Estados.
No entanto, Ghassan Khatib, professor de Estudos Internacionais e Ciência Política da Universidade de Birzeit, na Cisjordânia, e ex-ministro da Autoridade Palestina, disse que o plano de Trump deixou apenas “uma possibilidade teórica” para um futuro papel da organização em Gaza, com “muitos campos minados e condições”.
“Esse plano não é bom para a AP e não é bom para as aspirações políticas palestinas”, disse ele. “A Cisjordânia e Gaza não serão uma unidade integral.”
O Hamas ainda não declarou sua posição sobre o plano, que promete o fim imediato da guerra que devastou Gaza desde que o grupo atacou Israel, em 2023, e a libertação dos reféns que ainda mantém em seu poder.
A Autoridade há muito se posiciona como pronta para assumir o controle em Gaza.
O plano de Trump prevê que Gaza seja administrada por um comitê palestino apolítico e transitório, supervisionado por um órgão internacional presidido por Trump “até que” a AP tenha concluído as reformas — incluindo o que os analistas palestinos consideram como exigências politicamente difíceis estabelecidas em seu plano de paz.
O plano também implantaria uma força de estabilização internacional que treinaria e daria suporte à polícia palestina, em consulta com a Jordânia e o Egito.
A força palestina, a ser treinada no Egito e na Jordânia, teria uma cadeia de comando distinta da AP, disse uma autoridade sênior jordaniana. O financiamento e a supervisão seriam organizados por meio de um mecanismo árabe-islâmico, com salários não vinculados diretamente à AP.
O Departamento de Estado dos EUA disse que Washington estava concentrado em acabar com a guerra de Gaza e com o domínio do Hamas na região, libertando reféns e fornecendo ajuda vital. A Casa Branca não respondeu imediatamente a um pedido de comentário.
TRUMP PEDE REFORMA
Quando a Autoridade Palestina foi criada, em 1994, os palestinos esperavam que ela fosse um trampolim para um Estado na Cisjordânia e na Faixa de Gaza, com Jerusalém Oriental como sua capital.
Esse objetivo parece mais difícil do que nunca, apesar das medidas recentes dos países ocidentais que reconhecem a Palestina.
A construção de assentamentos por parte de Israel acelerou e o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu rejeitou a condição de Estado palestino, chamando-a de ameaça a Israel.
Os países doadores há muito tempo pedem que a AP combata a corrupção.
Outras exigências incluem a revisão dos currículos escolares. Netanyahu, em um discurso na ONU em 26 de setembro, disse que os livros didáticos palestinos ensinam as crianças a “odiar os judeus e destruir o Estado judeu”.
Washington também pediu o fim dos pagamentos da AP às famílias dos palestinos mortos ou presos por Israel, o que alguns críticos qualificam como “pagar para matar”. Essa exigência foi reiterada pelo embaixador dos EUA nas Nações Unidas na segunda-feira.
A AP diz que está progredindo, observando que Abbas aboliu uma lei que regia esses pagamentos em fevereiro. As famílias agora recebem apoio por meio de um fundo de bem-estar social, disse uma autoridade palestina.
A AP também se comprometeu a desenvolver currículos escolares em conformidade com os padrões da ONU.
Analistas palestinos dizem que um obstáculo pode ser a exigência do plano de Trump de que os líderes palestinos reconheçam Israel “como o Estado judeu”. O analista Hani al-Masri disse que essa seria uma condição impossível para a AP.
Abbas já recusou essa exigência anteriormente, dizendo que a Organização para a Libertação da Palestina, que ele preside, já reconheceu Israel em 1993. Ele observou que 21% da população de Israel são árabes, a maioria dos quais são palestinos por herança e israelenses por cidadania.