Por Camila Moreira e Rodrigo Viga Gaier
SÃO PAULO/RIO DE JANEIRO, 2 Dez (Reuters) – A indústria brasileira registrou crescimento abaixo do esperado em outubro, caminhando para o fim do ano sem ganhar ritmo em um ambiente interno adverso e em meio a incertezas no cenário externo.
Em outubro a produção industrial teve avanço de 0,1% em relação ao mês anterior, resultado que ficou aquém da expectativa em pesquisa da Reuters de alta de 0,4%.
Os dados divulgados nesta terça-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostraram ainda que, na comparação com o mesmo mês do ano anterior, houve queda de 0,5% na produção, contra expectativa de avanço de 0,2%.
Com isso, a produção industrial está 14,8% abaixo do nível recorde alcançado em maio de 2011.
A indústria vem enfrentando este ano a pressão de uma política monetária restritiva, com a taxa básica de juros em 15%, que encarece o crédito e afeta as decisões de investimentos. O Banco Central volta a se reunir na próxima semana para sua última decisão do ano de política monetária, com expectativa de manutenção da Selic.
“O mercado de trabalho (aquecido), aumento da renda, aumento de exportações para Argentina fazem contraponto dos juros”, disse o gerente da pesquisa, André Macedo.
“Esse 0,1% de alta é uma volta ao campo positivo, isso é algo bom…(mas) a indústria vem há meses girando perto de zero para cima ou baixo e num mesmo patamar”.
O cenário externo também restringe o setor industrial, que sofreu o impacto das tarifas dos Estados Unidos sobre produtos brasileiros que entraram em vigor em agosto.
“O resultado de outubro reforça a dinâmica de acomodação do crescimento do setor, que tem se mostrado o mais exposto ao tarifaço americano, tendo em vista que o mercado americano é de grande relevância para as exportações industriais e que os nossos produtos industriais não foram contemplados com nenhuma amenização das tarifas, como foi o caso de diversos outros produtos”, avaliou André Valério, economista sênior do Inter.
De acordo com o levantamento do IBGE sobre a indústria, em outubro 12 dos 25 ramos industriais pesquisados apresentaram expansão na produção contra o mês anterior. A principal influência foi a de indústrias extrativas, que cresceu 3,6% no mês.
“O avanço foi influenciado pela maior extração de petróleo, minério de ferro e gás natural. Vale destacar que o crescimento observado em outubro de 2025 eliminou a perda de 1,7% acumulada nos meses de agosto e setembro deste ano”, disse Macedo.
Também se destacaram os ganhos em produtos alimentícios (0,9%), veículos automotores, reboques e carrocerias (2,0%) e produtos químicos (1,3%).
Entre os setores que mostraram recuo na produção, coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (-3,9%) e produtos farmoquímicos e farmacêuticos (-10,8%) exerceram os principais impactos.
“A primeira intensificou a queda de 0,5% verificada no mês anterior e foi pressionada por paralisações em unidades produtivas do setor que impactaram na produção dos derivados do petróleo”, disse Macedo, explicando que na indústria farmacêutica houve menor fabricação de medicamentos.
Entre as categorias econômicas, a produção de bens de consumo duráveis avançou 2,7% em outubro, enquanto bens de capital e de bens de consumo semi e não duráveis tiveram alta de 1,0% cada. Por outro lado, o segmento de bens intermediários teve retração de 0,8%.




