Por Lisandra Paraguassu
BRASÍLIA (Reuters) – Mercosul e Canadá acertaram a retomada das negociações para um acordo de livre comércio, anunciou nesta segunda-feira o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, depois de um intervalo de quase quatro anos.
“Brasil e Canadá têm sido afetados por medidas que distorcem o fluxo legítimo de bens e investimentos, adotadas sem justificativas técnicas. Essas medidas enfraquecem os princípios que devem nortear as relações entre as nações”, disse Mauro Vieira em uma declaração ao lado do ministro de Comércio Internacional do Canadá, Maninder Sidhu.
“Diante desse cenário, tomamos a decisão conjunta de avançar para retomar nas negociações no acordo de livre comércio entre Canadá e Mercosul.”
A primeira reunião dos negociadores, liderados no lado do Mercosul pelo Brasil, será já em outubro, em Brasília.
Mauro Vieira anunciou ainda que uma missão comercial brasileira irá ao Canadá entre os dias 10 e 12 do próximo mês.
A negociação do acordo, que começou a ser negociado em 2019, ainda no governo de Jair Bolsonaro, parou em 2021. No entanto, a guerra tarifária iniciada pelo governo de Donald Trump, nos Estados Unidos, deu fôlego para a retomada das conversas.
“Em um momento em que o comércio baseado em regras está sendo ameaçado, precisamos nos unir a parceiros com ideias semelhantes, como o Brasil, para realmente desenvolver essa estrutura, garantir que ela exista e promover mais comércio. E é por isso que estou aqui”, disse Sidhu.
A expectativa dos dois lados, como mostrou a Reuters, é que seja um acordo relativamente simples de ser negociado e que possa ser fechado em até um ano. Maior economia do bloco, o Brasil não é um grande competidor do Canadá, disse uma fonte ouvida pela Reuters, ressaltando que há mais pontos de complementaridade do que de competição.
Além disso, disse esta fonte, o acordo entre Mercosul e União Europeia, fechado em dezembro do ano passado, ajudou a mostrar caminhos para questões que tendem a ser mais complicadas nas negociações, como as compras governamentais.
“O acordo com a União Europeia no ano passado foi um sinal muito claro de que o Mercosul quer negociar”, disse essa fonte, sob condição de anonimato para poder discutir livremente o tema.
Do lado brasileiro, uma fonte que acompanha os movimentos afirma que, de fato, o Brasil está disposto a negociar quantos acordos aparecerem. “Esses acordos não vão trazer efeitos amanhã. Não é isso que vai resolver o problema criado com as tarifas norte-americanas. Mas vai preparar um futuro de uma diversificação maior, de menor dependência”, afirmou.