Por Patricia Vilas Boas
(Reuters) – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse nesta terça-feira que deixará de inaugurar um grande projeto do programa habitacional Minha Casa, Minha Vida se não for considerado no escopo itens como áreas de lazer.
O empreendimento de três mil unidades, que Lula não revelou em qual Estado está sendo construído, não será inaugurado “se a gente não tiver repartido aquilo com campo de futebol, quadra, escola, área de lazer”, afirmou o presidente na abertura do 99º Encontro Nacional da Indústria da Construção, organizado pela Câmara Brasileira da Indústria da Construção (Cbic), em Brasília.
“Não é possível você fazer três mil casas sem levar em conta o acesso à cultura, ao lazer.”
Lula acrescentou que é preciso rediscutir o projeto com empresários, a Caixa Econômica Federal e o governador do Estado em que fica o conjunto habitacional.
Ainda no evento, ele voltou a tecer críticas contra complexos habitacionais com baixa qualidade dentro de programas com foco em pessoas de menor renda. O MCMV, que ganhou novos moldes em seu terceiro governo, tem impulsionado vendas e lançamentos no país.
De acordo com dados da Cbic do terceiro trimestre, as vendas dentro do MCMV saltaram 46,9% na comparação ano a ano, enquanto os lançamentos subiram 31,8% na mesma comparação. Isso tem se refletido nos balanços das construtoras, que divulgaram resultados sólidos no mesmo período.
Para o especialista em desenvolvimento imobiliário Marcelo Ignatios, a grande crítica que se faz sobre o programa habitacional do governo é o desenvolvimento urbano.
“A política habitacional promovida pelo MCMV originalmente tinha um intuito muito voltado exclusivamente à moradia, unidade habitacional… e com isso, o aspecto daquilo que a gente pode chamar de desenvolvimento urbano, que vai além da oferta da moradia, nunca tinha sido colocado em primeiro plano.”
Ignatios acrescentou que, nos últimos anos, o programa tem se atualizado, com novas regras, portarias e leis que buscam integrar diferentes acessos aos projetos, como fachadas ativas e retrofits, tornando obsoletos os conjuntos “monofuncionais”.
Ele, que já atuou nas áreas de planejamento urbano da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano e de Habitação de Interesse Social de São Paulo entre 2002 e 2007, disse que quando se opta por uma construção mais barata, com difícil acesso ao trabalho, transporte e a espaços de lazer, o custo é repassado para os moradores por meio de gastos com deslocamento.
“Em tese você está vendendo uma unidade mais barata, só que para aquela pessoa morar ali, ela precisa pagar para se deslocar. Na hora que promovemos uma cidade mais compacta, um conjunto habitacional mais inserido dentro da cidade, esse custo de deslocamento fica menor e há um ganho de eficiência para aquela infraestrutura de transporte que já está instalada no local.”
(Reportagem de Patricia Vilas Boas, em São Paulo)