Por Lisandra Paraguassu e Ricardo Brito
BRASÍLIA (Reuters) – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva cobrou nesta segunda-feira seus ministros que se envolvam mais na articulação política e nas negociações de projetos do governo com o Congresso, uma área que o Planalto vem enfrentando dificuldades recorrentes.
Durante o lançamento do pacote de crédito Acredita, Lula mencionou o vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin; o ministro da Fazenda, Fernando Haddad; e os ministros do Desenvolvimento e Assistência Social, Wellington Dias, e da Casa Civil, Rui Costa.
“Isso significa que o Alckmin tem que ser mais ágil, tem que conversar mais. O Haddad, ao invés de ler um livro, tem que perder algumas horas conversando no Senado e na Câmara. O Wellington, o Rui Costa, passar maior parte do tempo conversando com bancada A, com bancada B”, pediu Lula.
Questionado sobre a cobrança, Haddad respondeu que a articulação com o Legislativo é parte de seu cotidiano. “Eu só faço isso da vida”, disse em entrevista a jornalistas antes de uma reunião com Lula.
O governo vem enfrentando dificuldades no Congresso, especialmente na Câmara, onde o presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL), entrou em guerra aberta com o ministro da Secretaria de Relações Institucionais, Alexandre Padilha, a quem chamou de “incompetente” e “desafeto pessoal”.
Na semana passada, depois da crise com Lira ter sido escancarada, Lula reuniu Padilha, Rui Costa e os líderes do governo no Congresso para discutir a articulação. O presidente não tem intenção de tirar Padilha do ministério, mas quer que os demais ministros se unam à articulação.
Depois de três horas de reunião, ficou acertado também que o presidente deve entrar mais nas conversas. Lula terá reuniões, possivelmente essa semana, com Lira e também com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e deve marcar para breve reuniões com líderes e vice-líderes dos partidos que apóiam o governo,
Existe no Congresso uma cobrança para uma participação maior do presidente na conversa com parlamentares, como costumava fazer em seus mandatos anteriores.
Lira tem mandado recados ao Planalto de que a agenda econômica, uma das principais preocupações do governo, não será afetada por sua má relação com Padilha. Mas, como mostrou a Reuters na semana passada, existe uma preocupação concreta de que a má vontade de presidente da Câmara acabe por contaminar.
Na semana passada, a Fazenda obteve alguns avanços e conseguiu um acordo para votação do Programa Emergencial de Retomada do Setor de Eventos (Perse), com um limite de gastos de 15 bilhões até 2027. Outra vitória é a medida provisória que limita compensações tributárias de empresas, que está caminhando para ser aprovada no formato enviado pelo governo, de acordo com uma fonte.
Mas o governo deve ver derrubado o veto ao corte de 5,5 bilhões de reais em pagamentos de emendas de comissão e ainda terá que se mobilizar para evitar a aprovação de uma Proposta de Emenda Constitucional (PEC) que inclui benefícios nas carreiras jurídicas e causa um impacto de 40 bilhões de reais anuais no Orçamento da União — sem contar o efeito cascata para Estados.
A PEC foi aprovada na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado e deve ir a plenário, mas uma fonte ligada a Lira disse à Reuters que a PEC não deve passar na Câmara e o presidente da Casa não tem intenção de votar “pautas-bomba”.