SÃO PAULO (Reuters) – O secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Guilherme Mello, disse nesta quarta-feira que o governo espera que os juros caiam para terreno mais neutro, ao mesmo tempo que previu crescimento talvez acima de 2% da economia em 2024.
“As condições estão colocadas para uma contínua queda na taxa de juros para trazer a taxa de juros brasileira para um patamar que a gente chama de mais neutro, hoje ela ainda é contracionista, ela segura a economia, puxa para baixo a economia. Nós esperamos que ao longo deste ano ela caminhe para o campo da neutralidade”, disse Mello em entrevista à GloboNews.
O secretário mencionou “surpresas positivas no campo inflacionário mês atrás de mês”, com índices de inflação vindo abaixo das estimativas do mercado financeiro, e apontou que o próprio Banco Central tem indicado nas atas das reuniões recentes do Comitê de Política Monetária que as condições para manutenção da trajetória de queda da taxa Selic, atualmente em 11,75%, estão dadas.
O BC realiza nesta quarta-feira sua primeira reunião de política monetária do ano, e deve voltar a cortar a Selic em 0,5 ponto percentual, levando-a a 11,25%.
Ao falar das expectativas para o crescimento da atividade, Mello disse que ele deve ser melhor distribuído pelos diversos setores da economia e, ao mesmo tempo em que reconheceu que a agricultura não deve repetir o mesmo desempenho positivo de 2023, a indústria deve ter bom desempenho diante de medidas do governo para incentivar o setor.
“Em 2023 nós voltamos a cumprir a meta de inflação e esse ano a inflação deve ser ainda menor que a de 2023. Nós temos também a perspectiva de um crescimento um pouco menor, mas mais bem distribuído pela economia, com uma participação maior da indústria”, disse.
“Eu acredito realmente que teremos um resultado de crescimento acima das expectativas do mercado hoje, mais próximos de 2% ou até acima de 2%…, e também uma inflação um pouco mais bem comportada do que o mercado espera, um pouco mais perto de 3,5%, já convergindo para a meta de 3%, que foi estabelecido pelo Conselho Monetário Nacional.”
O secretário fez ainda a avaliação que, não fosse o pagamento do que chamou de “calote” nos precatórios e no ICMS dos combustíveis, feito pelo governo do ex-presidente Jair Bolsonaro, e as medidas de “erosão fiscal que vêm do passado”, o país teria registrado um déficit primário perto de zero em 2023.
Na segunda-feira foi anunciado que o governo central, composto pelas contas de Tesouro Nacional, Banco Central e Previdência Social, registrou em 2023 o segundo pior déficit primário da série histórica iniciada há 26 anos, de 230,5 bilhões de reais.
Mello apontou que o governo buscou encaminhar medidas de combate ao déficit em 2023 e manifestou confiança que a meta de zerar o déficit neste ano será alcançada.
“Nós já endereçamos as medidas de redução do déficit ao longo do ano passado inteiro, algumas começaram a surtir efeito no final do ano, mas todas elas certamente vão surtir efeito neste ano, por isso que nós estamos muito confiantes na nossa busca por zerar o déficit agora em 2024”, afirmou.