Por Ricardo Brito
BRASÍLIA (Reuters) – Ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) do governo Jair Bolsonaro, o general da reserva Augusto Heleno foi intimado pela Polícia Federal para depor na próxima terça-feira acerca do esquema de espionagem ilegal promovida pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin), disseram duas fontes da instituição à Reuters.
Heleno, que foi um dos ministros mais próximos de Bolsonaro durante os quatro anos da gestão passada, foi convocado na sede da corporação em Brasília e, disse uma das fontes, tem várias explicações a prestar sobre a atuação da Abin, que era vinculada ao GSI.
O depoimento de Heleno será o primeiro depois da terceira fase de operações feitas pela PF para investigar a atuação da chamada Abin paralela. Procurado, ele não respondeu de imediato a pedido de comentário.
Na segunda-feira, o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ), filho do ex-presidente Jair Bolsonaro, foi alvo de mandados de busca e apreensão sob suspeita de integrar o núcleo político de uma organização criminosa que atuaria ilegalmente na agência, então comandada pelo hoje deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ), inclusive buscando obter informações da própria PF.
Na semana passada, Ramagem já havia sido alvo de mandados de busca também sobre o mesmo caso. Por ora, acrescentou uma das fontes, não estão previstos novos depoimentos como o de Carlos Bolsonaro e de Ramagem e a equipe está se concentrando na análise do material recolhido nas recentes buscas e apreensões.
BAIXAS
Essas investigações da PF podem levar a baixas na atual direção da Abin.
Conforme reportagem da Reuters desta terça, o Palácio do Planalto decidiu pela troca do número 2 da agência, Alessandro Moretti, mas o presidente Luiz Inácio Lula da Silva resiste a trocar o diretor-geral do órgão, Luiz Fernando Corrêa, com quem tem proximidade, apesar de sofrer pressão para demiti-lo, disseram à Reuters fontes que acompanham o tema.
Moretti, que é delegado da PF, está de férias e volta na quarta-feira a Brasília, quando deverá prestar esclarecimentos à insittuição sobre as acusações de que teria dificultado as investigações da própria corporação sobre o suposto monitoramento ilegal de autoridades pela Abin durante a gestão Bolsonaro.
Na primeira fase da operação, em outubro, foram afastados cinco servidores da Abin, incluindo Paulo Maurício Fortunato Pinto, secretário de planejamento e gestão da agência e que ocupava o cargo de diretor de operações de inteligência durante o governo anterior.
De acordo com as investigações, o sistema de geolocalização utilizado pela Abin no esquema de espionagem ilegal é um software intrusivo na infraestrutura crítica de telefonia brasileira. A rede de telefonia teria sido invadida reiteradas vezes, com a utilização do serviço adquirido com recursos públicos.
O software, chamado First Mile, é produzido pela empresa israelense Cognyte e permite rastrear a localização de uma pessoa a partir de dados transferidos entre seu celular e torres de telecomunicações, e seria capaz de permitir o acompanhamento de até 10 mil pessoas por 12 meses.