Por Fabricio de Castro
SÃO PAULO (Reuters) -O plano de desenvolvimento do governo Lula para a indústria brasileira, que prevê 300 bilhões de reais em financiamentos até 2026, foi visto pelo mercado como um fator de risco para o equilíbrio fiscal, fazendo o dólar à vista subir mais de 1% ante o real nesta segunda-feira, em movimento sustentado ainda pela recuperação da divisa dos EUA no exterior durante a tarde.
O dólar à vista fechou o dia cotado a 4,9878 reais na venda, em alta de 1,23%. Em janeiro, a moeda acumula elevação de 2,81%.
Na B3, às 17:25 (de Brasília), o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento subia 1,09%, a 4,9925 reais.
Pela manhã, o dólar já sustentava ganhos ante o real, a despeito de no exterior a divisa estar recuando ante uma cesta de moedas fortes e ante boa parte das divisas de exportadores de commodities.
Investidores demonstravam cautela nos negócios à espera do restante da semana, quando saem dados importantes no Brasil e no exterior, além de decisões de política monetária em economias centrais.
No início da tarde, porém, as cotações no Brasil aceleraram, após o governo anunciar o plano “Nova Indústria Brasil”, que prevê linhas de crédito para empresas, subsídios e conteúdo local nos produtos.
De acordo com o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), dos 300 bilhões de reais previstos para financiamentos até 2026, sendo que 106 bilhões de reais já haviam sido anunciados em julho do ano passo.
Pela proposta, serão priorizados instrumentos financeiros sustentáveis e crédito para inovação, infraestrutura e exportações, além de subsídios, como os incentivos fiscais. Parte deles, segundo o MDIC, já começou a ser adotada por instituições como o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep).
No mercado, a percepção mais geral foi de que os 300 bilhões de reais anunciados — ainda que possam estar ligados a operações do BNDES, o que não necessariamente trará impacto fiscal — eleva o risco em relação às contas do governo. Em reação, o dólar se reaproximou dos 5,00 reais.
“Há uma recomposição de posições defensivas”, pontuou o diretor da Correparti Corretora, Jefferson Rugik, ao justificar a alta firme do dólar ante o real. “O programa pode trazer despesas para o governo e o mercado se ajusta, vai para a proteção do dólar.”
A aceleração das cotações no Brasil também foi favorecida pelo fato de que, no início da tarde, o dólar Index — que compara a moeda ante uma cesta de divisas fortes — recuperou fôlego no exterior, passando a registrar leves altas.
Assim, após oscilar pontualmente no negativo no início da sessão, marcando a cotação mínima de 4,9240 reais (-0,07%) às 9h02, o dólar à vista registrou a máxima de 4,9940 reais (+1,35%) às 16h23.
Porém, a divisa não teve força para superar os 5,00 reais — um importante nível de resistência técnica, cuja proximidade atrai vendedores de moeda ao mercado.
Às 17:25 (de Brasília), o índice do dólar –que mede o desempenho da moeda norte-americana frente a uma cesta de seis divisas– subia 0,09%, a 103,360.
O BC vendeu na sessão desta segunda-feira todos os 16.000 contratos de swap cambial tradicional ofertados na rolagem dos vencimentos de março.
Ao longo desta semana, os investidores vão monitorar a decisão de política monetária do Banco Central Europeu (BCE), na quinta-feira, a divulgação de uma série de dados norte-americanos e o Índice de Preços ao Consumidor Amplo-15 (IPCA-15) no Brasil, na próxima sexta-feira.
(Edição de Alexandre Caverni)