Por Paula Arend Laier
SÃO PAULO (Reuters) – O presidente-executivo do Bradesco, Marcelo Noronha, afirmou nesta quinta-feira que dados sobre o crescimento do PIB e do mercado de trabalho corroboram uma visão positiva para o Brasil, com exceção das contas públicas.
“Você tem um cenário, no Brasil, hoje, que eu considero um cenário positivo, à exceção do aspecto fiscal”, afirmou o executivo em entrevista à Reuters, citando a dívida pública, que alcançou 78,5% do PIB em agosto.
Ele acrescentou que há uma desconfiança entre agentes econômicos — que não são os bancos — e que a melhora do sentimento no mercado em relação ao fiscal depende das medidas prometidas pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad.
Na véspera, o ministro afirmou que houve convergência com a Casa Civil em torno da elaboração de medidas para controle de despesas públicas, mas ressaltou que o plano passa por análise jurídica, sem dar prazo para apresentação.
Noronha classificou como um “cenário de estresse” a hipótese de o governo anunciar reduções de gastos pouco efetivas, o que poderia pressionar a taxa de câmbio e contaminar a inflação.
Mas destacou que, mesmo se o cenário “estressar”, o Bradesco está com portfólios de crédito “super saudáveis” e pode fazer escolhas. O banco já têm adotado um gestão focada no retorno ajustado ao risco na concessão de crédito.
Falando sobre o cenário base, ele ponderou que juros maiores tendem a desacelerar a economia como um todo, mas chamou a atenção para o desemprego no país, que caiu a 6,4% no trimestre encerrado em setembro, com alta na renda ano a ano.
O executivo ainda citou a performance do PIB, que cresceu 3,3% no segundo trimestre na base anual.
“Se for esse cenário básico, nós vamos continuar entregando… a chance é continuarmos crescendo, ‘step by step'”, disse Noronha, repetindo uma expressão que tem adotado desde que assumiu como CEO.
“E eu espero sempre entregar mais do que aquilo que o mercado tem de expectativa”, acrescentou.
O Bradesco reportou mais cedo nesta quinta-feira lucro líquido recorrente de 5,2 bilhões de reais no terceiro trimestre, alta de 13,1% ante o mesmo período do ano anterior, com expansão de rentabilidade e avanço na carteira de crédito.
As provisões para devedores duvidosos (PDD) recuaram 22,4% ano a ano, para 7,1 bilhões de reais. Na comparação com os três meses imediatamente anteriores, caíram 2,2%. O índice de inadimplência acima de 90 dias recuou para 4,2%.
Sobre efeitos das chamadas “bets” no crédito do banco, Noronha disse que não houve ainda impacto nos números, mas que o Bradesco é capaz de identificar se o cliente é um apostador recorrente dessas apostas online, com risco de crédito maior.
O executivo afirmou não ser contra esse tipo de atividade, mas ressaltou a necessidade de uma regulamentação rigorosa e descartou qualquer iniciativa do Bradesco envolvendo uma operação nesse sentido. Mas afirmou que o banco tem outros negócios em andamento, que serão oportunamente abordados.