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ENFOQUE-Produtores de café robusta no Brasil priorizam qualidade em meio a preços altos e preocupações climáticas

Agricultor cuidando de plantações verdes em uma fazenda sob céu nublado, explorando técnicas de agricultura sustentável para melhorar a produtividade.

Por Oliver Griffin

SÃO PAULO, 6 Dez (Reuters) – Em meio ao burburinho de uma cafeteria sofisticada na elegante rua Oscar Freire, em São Paulo, um barista prepara um espresso atípico.

Extracremoso, com aroma de nibs de cacau, o café não apresenta a acidez característica tão apreciada nos cafés feitos com os melhores grãos de arábica.

Isso porque este espresso premium é feito com 100% de grãos robusta, no passado um ingrediente barato, mais usado para café solúvel.

“É um café que produz uma crema maravilhosa… e tem notas muito mais achocolatadas”, disse Marco Kerkmeester, cofundador da rede de cafeterias Santo Grão, destacando o apelo de uma bebida chamada, de forma bem-humorada, de “0% arábica”.

 

MUDANÇAS NA FAZENDA

Com as mudanças climáticas ameaçando os grãos de arábica, tradicionalmente usados ​​em cafés especiais, os produtores brasileiros de robusta estão investindo em técnicas de colheita e secagem para produzir um grão de alta qualidade que agrade aos consumidores mais exigentes.

O Brasil é o segundo maior produtor mundial de robusta, depois do Vietnã, e o principal produtor de arábica.

No entanto, um estudo de 2022 constatou que mais de três quartos das melhores terras do Brasil para o cultivo de café arábica podem se tornar impróprias para o cultivo até 2050 devido ao aumento das temperaturas e à seca.

Com os preços e o consumo globais de café atingindo recordes neste ano em meio a tensões comerciais e eventos climáticos extremos, os grãos de robusta premium também oferecem aos torrefadores uma maneira de reduzir o custo dos blends de espresso com arábica, que é mais caro.

“Meu pai é da região de montanhas onde já produzem arábica e de alta qualidade”, disse Lucas Venturim, um cafeicultor que produz a cerca de 805 quilômetros de distância, no Estado do Espírito Santo, cujos grãos foram usados ​​naquele café expresso servido em uma esquina da Oscar Freire.

“Ele nunca aceitou que o conilon é ruim porque é conilon. O arábica também não é bom porque é arábica. Aí ele colocou isso na cabeça da gente — se vocês produzirem também com esse trato diferenciado, vocês também vão conseguir uma qualidade diferenciada no conilon”, revelou Venturim.

Seguindo essa mesma linha, a Specialty Coffee Association (SCA), que define os padrões globais para cafés especiais, revisou este ano seu curso de avaliação para atrair potenciais avaliadores de grãos de arábica e robusta.

Agora, qualquer pessoa treinada para avaliar cafés de alta qualidade poderá descrever e premiar com precisão as bebidas merecedoras, independentemente da espécie ou tipo de grão.

“Nós percebemos a tendência”, disse Kim Ionescu, diretora de desenvolvimento estratégico da SCA, citando, por exemplo, a crescente demanda do consumidor por robusta premium no Sudeste Asiático. “Parece que a espécie não é o critério que devemos usar para definir o que é especial ou não.”

Em 2026, a SCA começará a revisar o léxico de descritores de sabor usados ​​pelos avaliadores de café para incluir atributos associados à robusta de alta qualidade, como especiarias aromáticas.

Marcas como a Nguyen Coffee Supply, que oferece robusta de qualidade do Vietnã, já abriram caminho nos EUA, enquanto cafeterias de Londres a Berlim estão destacando as qualidades refinadas da robusta.

 

SECADORES MODERNOS

A oportunidade deu início a uma transformação no Espírito Santo, Estado que concentra a maior parte da produção brasileira de robusta, que agora prioriza não apenas a produtividade, mas também a mais alta qualidade.

O Estado pretende produzir 1,5 milhão de sacas de 60 kg de robusta especial anualmente até 2032, um aumento em relação às 10.000 sacas atuais, segundo apresentação da Secretaria de Agricultura do Estado, vista pela Reuters.

Isso representa cerca de um décimo da produção atual do Estado, exigindo uma adoção mais ampla das melhores práticas pós-colheita já comuns entre os produtores de arábica, de acordo com José Roberto Gonçalves, gerente corporativo de agropecuária da Cooabriel, a principal cooperativa de robusta do Brasil.

Nos últimos anos, a Cooabriel tem participado de feiras de cafés especiais ao redor do mundo.

Enquanto alguns produtores secavam os grãos de robusta indiretamente com fogo, onde a fumaça e a alta temperatura podiam afetar negativamente o sabor, a Cooabriel está ensinando aos agricultores as vantagens do uso de secadores modernos e práticas de seleção cuidadosas, disse Gonçalves.

Especialistas da agência estadual de pesquisa Incaper e da universidade federal (Ifes) relataram um aumento no número de produtores de robusta buscando certificar grandes quantidades de seus grãos como café especial de maior valor agregado.

“Se no passado o conilon era visto como um café de qualidade inferior, essa história vem mudando”, disse Douglas Gonzaga de Sousa, coordenador do Centro de Cafés Especiais do Espírito Santo.

O crescente reconhecimento da alta qualidade do robusta no Brasil, juntamente com a produtividade historicamente elevada em comparação com o arábica, tem atraído mais produtores de arábica a experimentarem o robusta, aplicando seus conhecimentos à variedade.

O subsecretário de Desenvolvimento Rural do Espírito Santo, Michel Tesch, afirmou que esse fluxo é amplamente de uma via.

“A gente não tem pessoas saindo do conilon para produzir arábica.”

A Cooabriel está expandindo seu viveiro de robusta no Espírito Santo para produzir cerca de 10 milhões de mudas por ano, ante os 2 milhões atuais.

 

PREÇOS DISPARAM

A crescente qualidade do robusta brasileiro se traduziu em maior demanda e preços mais altos, afirmou Márcio Ferreira, presidente do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé).

Este ano, o preço médio por saca de robusta diferenciado brasileiro ultrapassou US$295 por saca de 60 kg até outubro, mais que o dobro do preço médio de 2021, segundo dados da Cecafé compartilhados com a Reuters.

“A melhoria de qualidade permite que você aumente o percentual de robusta nos blends em todo o mundo”, disse Ferreira, acrescentando que as torrefadoras estão destacando mais abertamente as qualidades da robusta em seus blends de espresso, à medida que reduzem a participação do arábica.

Ao mesmo tempo, o café robusta especial não está tentando competir diretamente com o arábica, disse Jordan Hooper, chefe de comercialização de café verde da Sucafina.

“A abordagem original do robusta especial era tentar competir com o arábica especial”, disse ele. “Agora é como se o robusta pudesse ser interessante por si só.”

Natalia Ramos Braga, a barista que preparou o espresso feito exclusivamente com robusta na cafeteria Santo Grão, em São Paulo, disse que o Brasil é um terreno fértil para a evolução desses gostos.

“As pessoas, principalmente, sobretudo aqui no Brasil, têm uma preferência por um café com mais peso na boca, mais amargor na finalização, isso é uma preferência”, disse ela. “Se a pessoa gosta de mais amargor e mais corpo, que bom, a gente tem um café para isso, que é um café canéfora.”

 

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