Durante os meus cinco anos de faculdade o que mais ouvia – pelo menos de algum professor em cada semestre – era que sentiríamos falta da nossa rotina, e que o ano mais difícil da faculdade não seria aquele com a matéria que menos tínhamos afinidade, mas sim o tão temido “sexto ano”. Aquele em que não estaríamos mais ali. O tempo passou, a faculdade se encerrou, e, de fato, esses professores tinham razão!
Depois da colação de grau e até da tão sonhada aprovação na OAB, as dúvidas e os mais diversos questionamentos realmente apenas se iniciaram. E eu sabia que isso era só o começo de uma jornada que poderia parecer incrível e assustadora ao mesmo tempo.
Primeiro, um dos principais conselhos que eu posso deixar registrado aqui é que é preciso ter em mente que a teoria é muito diferente da prática, principalmente em relação aos resultados. Um dos primeiros choques do estudante de direito quando sai da faculdade e vai encarar a realidade é que nem tudo vai se encaixar perfeitamente ao que a lei diz. Cada juiz irá decidir em conformidade com o seu olhar sobre o caso. Isso para qualquer área do Direito que você for escolher – e sim, é necessário escolher algum ramo para se aprofundar.
E é justamente nesse sentido que é preciso compreender que, enquanto a faculdade foca na lei material, o mercado de trabalho nos exige não somente senso de realidade e consciência da premissa anterior, mas também gestão de prazos, familiaridade com sistemas de processo eletrônico e muita disposição.
Mas como conseguir a tão almejada prática quando, às vezes, não temos tudo aquilo que o mercado quer que tenhamos?
Não somente o networking e a construção de relacionamentos profissionais são fatores importantes. Conforme já mencionado, é essencial se especializar em sua área de afinidade: faça uma pós-graduação – seja ela lato ou stricto sensu. Afinal, você pode decidir aperfeiçoar suas habilidades práticas em determinada área, conhecendo a teoria a fundo e casos práticos mais de perto, ou até preferir ser pesquisador e ministrar aulas, realizando um mestrado e até um doutorado.
Palestras, encontros de comissões da OAB de sua cidade, assim como workshops também podem ser boas alternativas para adquirir conhecimento e “trocar figurinhas” com profissionais mais experientes.
E, justamente dentro dessa ideia, não deixe de pedir ajuda. Em outras palavras, buscar mentoria pode ser uma boa alternativa para te nortear. Converse com alguém mais experiente: pode ser um advogado com mais prática, um ex-professor ou um colega de trabalho. Não tenha medo de começar a construir sua experiência e confiança. E, com um empurrãozinho daqueles que são mais experientes, com certeza o caminho poderá fluir de maneira melhor e um pouco menos complexa.
Uma das dicas que eu mais aconselho é agarrar todas as oportunidades que venham a aparecer. E, naturalmente, isso inclui não ter medo de se aventurar em outra área ou tentar alguma carreira jurídica diferente. Afinal, você não precisa seguir apenas a carreira da advocacia. Enquanto faz uma pós, pode pensar em possibilidades de concursos públicos e se aventurar em residências jurídicas, por exemplo. Não existe uma regra.
E para mergulhar na rotina dos concursos públicos é preciso ter em mente dois princípios basilares: planejamento e resiliência. Afinal, a jornada é árdua: lei seca, doutrina, jurisprudência e muitas – mas muitas – questões. Mas tendo paciência e compreendendo que tudo leva tempo, o seu sonho pode – e vai – valer a pena!
Também não há problemas em ainda não ter propriamente um norte e ir se descobrindo e redescobrindo enquanto faz uma ou outra atividade. Inclusive, é importante entender o que faz sentido para você, afinal, quem lidará cotidianamente com os mais diversos casos e situações – seja você advogado, servidor público, pesquisador ou até professor – é você!
Estude, se prepare, esteja conectado às novidades legislativas e jurisprudenciais. E o mais importante: deixe claro para a pessoa que você está lidando – principalmente para clientes – que seu trabalho é uma atividade meio, e não fim. O resultado virá de fatores externos atrelados ao seu esforço (que, com toda certeza, existirá ao máximo em seu desempenho).
Mas calma: a vida não é só isso. Mesmo diante desse turbilhão de informações, é preciso ter equilíbrio e não se desesperar. Afinal, todos aqueles formados em Direito também irão passar por esses questionamentos.
Nada é mais importante do que o nosso bem-estar e a nossa saúde mental, pois sem esses elementos não conseguimos ter um melhor aproveitamento em nossa carreira. O bem-estar profissional reflete diretamente em nossa qualidade de vida e, por isso, é muito importante estabelecer alguns limites básicos, como ter um horário fixo de trabalho e aprender a se desconectar.
Por isso, essas são algumas lições práticas que a faculdade não nos ensina e só conseguimos aprender com a vida. Repito mais uma vez, não se desespere e lembre-se: o início é verdadeiramente desafiador, mas, com o tempo, tudo se encaixa e o sucesso vem à tona. Afinal, o tão temido “sexto ano” é só o começo de nossa longa e desafiadora trajetória no mundo jurídico!
Texto escrito por: Mayara Cristina Cordeiro
Advogada. Graduada em Direito pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Pós-graduada em Direito Militar pela Escola Paulista de Direito. Atua em casos de Direito do Trabalho e Previdenciário. Pesquisadora de Direito e Processo Penal. Autora do livro “Influências da emendatio libelli no sistema acusatório: cotejamento entre os processos penais comum e militar e limitação decorrentes da legislação castrense”, 1ª ed.